Indicadores de resultados em Estomaterapia: O que preciso saber?

Indicadores de resultados em Estomaterapia: O que preciso saber?

A qualidade da assistência tem sido um assunto relevante nas questões relacionadas a saúde e Estomaterapia. Os elevados custos e a exigência pela promoção da igualdade de acesso da população aos recursos disponíveis têm direcionado esforços no sentido de buscar evidências objetivas para demonstrar a eficácia dos resultados diante das decisões tomadas pelas instituições e serviços; decisões essas traduzidos através do reestabelecimento e na qualidade de vida do paciente.

Segundo Donabedian, para a avaliação qualitativa do cuidado, são comparadas e analisadas as informações a partir das dimensões de estrutura, processo e resultado.

Nesse caminho a estrutura é avaliada com base na existência de recursos físicos, humanos e organizacionais adequados a prestação da assistência; o processo está apoiado na avaliação das inter-relações de trabalho que envolvem gestão, profissionais e usuários; e o resultado está atrelado ao impacto direto na qualidade do processo que, por sua vez, se reflete na melhora dos resultados assistenciais1.

A apreciação, segundo critérios que envolvam os pontos mencionados, permite ao término, a construção da análise da qualidade alcançada, as oportunidades de progresso, fornecendo subsídios para a busca de estratégias coerentes para a correção e melhorias dos resultados assistenciais. Partindo desse ponto, os indicadores são caracterizações quantificáveis da estrutura, dos processos e dos resultados com fornecimento de informações expressas por meio dos eventos, taxas ou índices. Indicadores de resultados ou de efetividade referem-se às mudanças desejáveis ou indesejáveis atribuídas a cuidados de saúde prestados; são elementos concretos e imprescindíveis que traduzem o impacto de cuidados com a saúde.

A efetividade é o estágio em que melhorias atingíveis em saúde são alcançadas. Dessa forma espera-se que a assistência seja consolidada com base nas melhores evidência, sendo efetiva e segura, proporcionando resultados satisfatórios, espelhado no fornecimento da qualidade de vida ao indivíduo e à comunidade1,2.

A Estomaterapia é uma especialidade exclusiva do enfermeiro voltada a ações de promoção e atenção integral à saúde, em seus aspectos preventivo, curativo e de reabilitação. O enfermeiro especialista em estomaterapia é definido como aquele que possui conhecimentos, habilidades e atitudes específicas para a prestação da assistência aos pacientes com estomias, feridas agudas e crônicas, fístulas e incontinência anal e urinária tendo sua atuação baseado em evidências científicas; evidências essas com metas bem estabelecidas a serem alcançadas, seja na prevenção, tratamento ou reabilitação3.

A validação no conteúdo dos indicadores de resultados na estomaterapia, apresentam-se atendendo as medidas que expressam a efetividade do resultado, após a tomada de decisão empreendida pelo enfermeiro estomaterapeuta. Para definir se as condutas adotadas forma de fato efetivas, existem alguns recursos descritos em literatura que corroboram como desejáveis a um bom indicador, são eles: disponibilidade, confiabilidade, representatividade, sensibilidade, abrangência, objetividade e utilidade.

A exemplo de indicadores de efetividade em estomaterapia poderíamos fazer menção de alguns, tais como:

Na área de feridas a busca pelo processo de restauração tissular da pele é uma das metas desejadas, podendo ser mensurada com auxílio de instrumentos utilizados para o monitoramento e evolução da cicatrização de feridas, como a escala de PUSH por exemplo, onde a partir da sua aplicação o enfermeiro estomaterapeuta terá “scores” que tabulados, acompanhados e analisados poderão ser utilizados para demonstrar o seu desempenho nesse processo.

A exemplo na área de estomias intestinais a efetividade da assistência poderá ser demonstrada através do controle das complicações, como a dermatite na pele periestomia; com protocolos e medidas de prevenção já implantados (demarcação pré-operatória, recorte adequado do equipamento coletor, uso de película protetora, etc.) esse indicador poderá ser implementado através do levantamento das complicações mais prevalentes na instituição ou serviço; nesse processo ações como acompanhamento em relação a adesão dos protocolos deverá ser realizados com uso de métodos sistematizados que favorecerão o acompanhamento dos resultados esperados, tais como: busca ativa, auditoria de prontuários e registros, etc.

Na área de incontinência com base no índice aceitável para o desenvolvimento de infecção urinária de repetição para o perfil de pessoas assistidas no serviço, um caminho para demonstrar a efetividade da assistência realizada pelo enfermeiro estomaterapeuta seria o controle e monitoramento do número de pessoas com infecção urinária de repetição.

Os indicadores em estomaterapia se apresentam como uma ferramenta extremamente favorável se aplicados quando há uma definição muito clara do que se espera ou do que não se espera após a tomada de decisão e intervenções realizadas; essas definições serão sempre baseadas nas evidências científicas. Como colocado anteriormente o enfermeiro estomaterapeuta é aquele que possui conhecimentos, atitudes e habilidades específicas, logo é o profissional que deve estar à frente nos serviços em que atua no que tange a implementação dos indicadores nas áreas de feridas, estomias e incontinência.2,3,4.

O enfermeiro estomaterapeuta não tem sua atuação somente na execução de uma ação, como especialista espera-se que suas decisões sejam definidas com embasamento científico e estabelecimento de raciocínio clinico, o que reflete no diferencial de sua formação e atuação. Diante disso, a implementação de indicadores de resultados surge como uma maneira que possibilite a consolidação dos resultados alcançados, além de demonstrar de forma clara e objetiva os resultados efetivos na atuação do enfermeiro estomaterapeuta.

Referências:

  1. (FERREIRA, Juliana Mota et al. Indicadores de qualidade na atenção primária á saúde no Brasil: uma revisão integrativa. Revista Ciência Plural, v. 3, n. 3, p. 45-68, 2017.
  2. Seiffert LS, Wolff LDG, Silvestre AL, Mendonça TR, Cruz ED de A, Ferreira MMF, Amaral AFS do. Validação de indicadores de efetividade hospitalar na dimensão cuidado centrado no doente. Rev. Enf. Ref [Internet]. 30 de Junho de 2020 [citado 7 de Maio de 2023];5(2):1-7. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/referencia/article/view/24276
  3. PAULA, Maria Angela Boccara de; SANTOS, Vera Lúcia Conceição de Gouveia. O significado de ser especialista para o enfermeiro estomaterapeuta. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 11, p. 474-482, 2003.
  4. WOJASTYK, Lais Del Moro Cespedes; DE PAULA, Maria Ângela Boccara; PRADO, Merielen Neves Brajão. Estomaterapia: influências e repercurssões na carreira profissional. Estima–Brazilian Journal of Enterostomal Therapy, v. 18, 2020
Márcia Domingues

Enfermeira Estomaterapeuta Márcia Domingos de Oliveira da Silva
Habilitada em Podiatria Clínica Stay Care, Proprietária da M&D Consultoria em Estomaterapia, Docente curso de Especialização em Estomaterapia HCFMUSP, Membro Pleno ABENPO e Membro Pleno ISTAP

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