A palavra estomia tem origem do grego e significa “boca”, e sua confecção ocorre por meio de um procedimento cirúrgico, onde um órgão interno é exteriorizado. A função das estomias podem ser de caráter de eliminação, que são as estomias intestinais e urinárias, respiratório, chamada de traqueostomia, e para alimentação chamada de gastrostomia.
Na pediatria, as estomias são realizadas em casos de doenças congênitas tendo um caráter permanente ou em situações clínicas benignas assumindo um caráter temporário. A literatura nos traz que a causa básica de estomia na infância é a malformação congênita, seguida por doença inflamatória intestinal, trauma e por fim neoplasia. Nessa fase os tipos mais comuns são: as gastrointestinais, urinárias e de vias aéreas. A decisão de confecção de uma estomia nesses casos são sempre muito delicadas, pois além do trauma cirúrgico existe o trauma psicológico causado à criança e sua família.
Das estomias gastrointestinais, a mais comum é a chamada gastrostomia, utilizada como via de alimentação quando o paciente não consegue se alimentar pela boca. Em geral, são casos de crianças portadoras de doenças neurológicas, sem coordenação ou incapazes de deglutir. Alguns casos podem ser decorrentes de atresia do esôfago e estenose cáustica. Sua confecção pode ser realizada por laparotomia ou por via endoscópica.
A complicação mais comum na pediatria é a dermatite periestoma causada pelo extravasamento de líquido gástrico, mas também não é pouco frequente observar o granuloma que é uma reação inespecífica do organismo a um corpo estranho. Essas duas complicações podem ser prevenidas com uma boa higiene local, mantendo a região seca e estabilizando o cateter de maneira que ele não fique solto, traumatizando internamente a mucosa gástrica.
As estomias urinárias são realizadas no tratamento das patologias urinárias congênitas e adquiridas. As mais conhecidas são: nefrostomia (cateter na pelve renal), pielostomia (exteriorização da pelve renal), ureterostomia (ureteres exteriorizados no hipogástrico), vesicostomia (abertura da bexiga no hipogástrio) e cistostomia (cateter na bexiga).
Traqueostomia é o nome dado às estomias ditas como respiratórias indicadas na pediatria por obstrução de vias aéreas. Geralmente, são ocasionadas por aspiração de corpos estranhos ou edema de glote devido reação alérgica grave, laringomalácia, fenda traqueoesofágica, intubação orotraqueal prolongada e trauma facial grave e crianças com neuropatia grave com histórico recorrente de aspiração de secreção da orofaringe. É confeccionada por um procedimento cirúrgico simples, através de uma incisão para colocação da cânula.
As principais complicações na pediatria são obstruções devido à formação de rolhas de secreção e decanulação acidental. Os principais cuidados desse tipo de estomia são a aspiração constante da via aérea, higiene local, mantendo a pele periestoma seca e a adequada fixação da cânula através de uma fita que passa pela face posterior do pescoço.
As estomias podem garantir ao paciente uma recuperação total de sua condição clínica, fornecer uma melhor qualidade de vida, e muitas vezes podem salvar a vida do paciente quando diante de situações emergenciais. O
papel do enfermeiro estomaterapeuta na pediatria inicia na fase pré estomia, quando a família e a criança necessitam de informações para tomar a decisão da realização ou não do procedimento, ou em casos de urgência no entendimento desse novo dispositivo.
Atuando não só no apoio e cuidado técnico, mas também olhando essa criança e sua família no âmbito integral do ser que carrega suas necessidades físicas, emocionais e sociais, necessitando de encorajamento e conhecimento para seguir com essa nova forma de viver temporária para alguns e permanente para muitos.
Referências Bibliográficas
– Estomias. Disponível em: <https://sobest.com.br/estomias/>. Acesso em 08 mar. 2025.
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– PAULA, Maria Angela Boccara de et al. Estomaterapia em foco e o cuidado especializado. São Caetano do Sul: Yendis, 2015
Gabriela do Amaral Anastasi
Enfermeira desde 2014 pelo Centro Universitário São Camilo;
Especialista em pediatria e estomaterapia formada pelo Centro Universitário São Camilo;
Atualmente responsável pelo polo de curativos de Perus.