Assistência especializada em estomaterapia e a atenção primária à saúde no atendimento a pessoa com estomia de eliminação

Assistência ao paciente com estomia de eliminação

O crescente número de pessoas com estomia de eliminação no Brasil, as diferentes realidades regionais quanto à oferta de serviço especializado e a dimensão geográfica do país, tornam imprescindível que a atenção primária a saúde esteja apta para tal acolhimento. Dentre os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção primária à saúde funciona como porta aberta, sendo preferencialmente o primeiro contato do usuário com a rede de atenção a saúde, acolhendo as pessoas, promovendo vínculo e estabelecendo uma corresponsabilização pelo atendimento das suas necessidades de saúde1.

Na rotina dos serviços de saúde, a integralidade deve ser expressa a partir da atenção à saúde das pessoas sob a ótica da clínica ampliada, ofertando cuidado preventivo, tratamento em tempo oportuno e não apenas mediante o seu adoecimento. Para tanto, deve incluir a prestação de cuidados de saúde abrangentes que abarquem a prevenção primária, rastreamento, diagnóstico precoce, adaptação, reabilitação, cuidados paliativos, e a prevenção quaternária, evitando intervenções desnecessárias. Além do reconhecimento das necessidades biológicas, psicológicas, sociais e manejo adequado das tecnologias de cuidado e gestão para esses fins, ampliando a autonomia das pessoas1, 2.

As diretrizes nacionais para atenção à saúde das pessoas com estomias no âmbito do SUS preconizam que o cuidado seja composto por ações desenvolvidas na atenção básica e nos serviços de atenção à saúde das pessoas ostomizadas, cabendo a atenção primária a saúde a orientação para o autocuidado e prevenção de complicações nas estomias3. No entanto, muitos são os desafios a serem enfrentados quando se lida com a defesa da vida e com a garantia do direito à saúde. No que tange o acolhimento e cuidado qualificado à pessoa com estomia de eliminação é essencial que o enfermeiro, assim como os demais componentes da equipe multiprofissional da atenção primária a saúde tenham as habilidades necessárias para desenvolver as ações previstas.

As pessoas com estomias de eliminação podem apresentar dificuldades de adaptação de origem física e psicossocial. Queixas relacionadas a complicações decorrentes do estoma confeccionado e consequente dificuldade de adaptação de equipamento coletor (bolsa coletora) requerendo suporte de profissional especializado (enfermeiro estomaterapeuta) também é comum. Além de distúrbios de autoimagem, dentre outros problemas, tornando o papel do enfermeiro fundamental na promoção do cuidado e qualidade de vida.

No entanto, estudos apontam para a fragilidade do atendimento do enfermeiro generalista à pessoa com estomia de eliminação, apresentando frequentemente abordagens fragmentadas reproduzindo o modelo biomédico, falta de conhecimento teórico, prática insuficiente para o manejo adequado do estoma e do equipamento coletor, abordagens que não contribuem no enfrentamento das dificuldades psicossociais, não facilitando sua adaptação e não atendendo ao objetivo de prevenir complicações 4, 5, 6, 7, 8.

Sendo imperiosa a participação do especialista (enfermeiro estomaterapeuta) no suporte aos profissionais da atenção primária, atuando no processo de educação permanente em saúde das equipes multiprofissionais, capacitando os profissionais enfermeiro para a prestação qualificada do cuidado respeitando as competências do seu nível de complexidade. A presença do especialista na linha de cuidado a pessoa com estomia de eliminação torna possível o alcance da integralidade e a superação das restrições do cuidado às pessoas com estomia de eliminação nos diferentes níveis de atenção à saúde.

REFERÊNCIAS

1 – BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 15 abril 2022.

2 – BRASIL. Ministério da Saúde. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2. ed. Brasília, 2010. Disponível em:  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento_praticas_producao_saude.pdf. Acesso em: 15 abril 2022.

3 – BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº400, de 16 de novembro de 2009. Estabelece as Diretrizes Nacionais para a Atenção à Saúde das Pessoas Ostomizadas no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, a serem observadas em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2009/prt0400_16_11_2009.html. Acesso em: 15 abril 2022.

4 – MAURÍCIO, V. C. et al. A visão dos enfermeiros sobre as práticas educativas direcionadas as pessoas estomizadas. Escola Anna Nery, v. 21, n. 4, 2017.

5 – FREIRE, D. A. et al. Autoimagem e autocuidado na vivência de pacientes estomizados: o olhar da enfermagem. Revista Mineira de Enfermagem, 2017.

6 – MENDONÇA, S. N. et al. Orientações de enfermagem e implicações para a qualidade de vida de pessoas estomizadas. Revista de Enfermagem UFPE on line, Recife, p. 296-304, 2015.

7 – NIEVES, C. B. et al. Percepção de pacientes ostomizados sobre os cuidados de saúde recebidos. Revista Latina-Americano de Enfermagem, 2017.

8 – AGUIAR, F. A. S. et al. Colostomia e autocuidado: significados por pacientes estomizados.   Revista de Enfermagem UFPE on line Recife, 13(1):105-10, jan., 2019.

Maiza Fernandes Bomfim

Maiza Fernandes Bomfim
Enfermeira Estomaterapeuta e Enfermeira da Atenção Domiciliar – Programa Melhor em Casa – São Mateus/ES

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