Dia 10 de setembro é o dia mundial da prevenção do suicídio, um movimento que teve início em 2015 no Brasil e esse mês é destinado a campanhas de conscientização para a prevenção do suicídio. O setembro amarelo foi criado para informar e alertar a população, por meio da disseminação do conhecimento sobre o problema e dar subsídio para ações de prevenção do suicídio.
Suicídio é o ato deliberado, intencional, de causar morte a si mesmo; iniciado e executado por uma pessoa que tem clara noção ou forte expectativa de que o desfecho seja fatal e resulte em sua própria morte¹.
O ato de se matar e anterior a ele, sempre vem repleto de sofrimento e desespero, onde o findar da vida é o refúgio da melancolia extrema. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, estatisticamente a somatória das mortes é maior que mortes por AIDS, malária, câncer de mama, guerras e homicídios, sendo a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, depois de acidentes de trânsito, tuberculoses e violência interpessoal. Em relação ao perfil epidemiológico, mais homens morrem por suicídio do que mulheres (12,6 por cada 100 mil homens, em comparação com 5,4 por cada 100 mil mulheres)².
O Boletim epidemiológico do mistério da saúde calcula que entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por suicídio, acréscimo de 43% no número anual de mortes, de 9.454 em 2010, para 13.523 em 2019 e a cada suicídio, há muitas pessoas fazem uma tentativa, e muitas outras estão pensando em praticá-lo.³
O suicídio é a pior de todas as tragedias humanas. Não apenas representa a culminância de um sofrimento insuportável para o indivíduo, mas também significa uma dor perpetua e um questionamento torturante, infindável, para os que ficam¹.
Quando uma pessoa comete o suicídio, outras são atingidas, podendo ser um parceiro(a), filho(a), pai, mãe ou amigos e estima-se que aproximadamente 135 pessoas sofrem intenso luto ou são afetadas de alguma forma. Isso equivale a 108 milhões de pessoas por ano que são profundamente afetadas pelo comportamento suicida4.
O suicídio ainda é considerado um estigma entre a população, pois existe um desconforto para falarmos ao seu respeito, entretanto, a comunicação e o acolhimento são as melhores formas de evitar o suicídio em um momento de desespero. A tentativa de suicídio é o fator de risco mais importante para o suicídio. E quem são as pessoas que tentam ou cometem o suicídio? Segundo dados do OMS, em um estudo realizado com mais de 15 mil pessoas que se suicidaram, constatou-se que 96,8% das pessoas possuíam algum transtorno mental, entre eles: depressão, transtornos do humor, transtornos relacionados ao uso de substâncias, esquizofrenia, transtornos de personalidade e transtornos de ansiedade. Outros fatores de risco, cerca de 3,6% são o bullying, situação atual ou histórico de violência, história de abuso sexual, populações vulneráveis que sofrem pressões sociais e discriminação (LGBTQIAP+, indígenas e negros) e pessoas em situação de rua, associadas a fatores comportamentais e situacionais2.
Um dos principais pilares para a prevenção é o acolhimento. O relacionar-se é natural ao ser humano e a dificuldades inerentes a nossas vidas tornam-se mais brandas quanto possuímos vínculos, sejam eles familiares, amigos, religiosos ou mesmo serviços especializados de saúde. Assim, o primeiro passo para a prevenção é a inter-relação humana, estabelecida por meio do ouvir, compreender os sentimentos, estabelecer conexões e agir. Não existe uma fórmula para identificarmos quando exatamente uma pessoa poderá cometer o suicido, mas existem sinais que podem ser determinantes em momentos de extrema angústia do indivíduo em sofrimento: preocupação com sua própria morte ou falta de esperança; expressão de ideias ou de intenções suicidas; diminuição ou ausência de autocuidado; mudanças na alimentação e/ ou hábitos de sono; uso abusivo de drogas/álcool; alterações nos níveis de atividade ou de humor; crescente isolamento de amigos/família; diminuição do rendimento escolar ou no trabalho; autoagressão5.
Após a identificação dos fatores de risco, é necessário a procura de ajuda de profissionais de saúde especializados para garantir a segurança das pessoas com risco de suicídio. A Rede de Atenção Psicossocial- RAPS, foi instituída em 2011 com o objetivo de criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimentos mentais. A Rede é composta por serviços e equipamentos variados, entre os quais: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); Unidade Básica de Saúde (UBS); Unidade Especializada em Hospital Geral, entre outros6.
O suicídio é um comportamento multifatorial e questões psicossociais podem contribuir para o adoecimento ou sofrimento mental e vale ressaltar a importância de medidas para a prevenção do adoecimento mental, minimizando os fatores de risco e fortalecendo os fatores de proteção. Num estudo realizado após a restrição de acesso às escolas e serviços não essenciais, durante o período de distanciamento social devido a pandemia, mostrou que atividades ao ar livre como exercitar-se, atividades ligadas à terra e/ou dedicar-se a hobbies, contribuíram para diminuir as emoções negativas das pessoas.7 Envolver-se em interações sociais e o aumento do repertório de atividades prazerosas contribuem para o bem-estar.
O modo como uma pessoa vive é o modo como ela adoece, as escolhas de suas ações, como se alimentar, como descansar, como se exercitar, como trabalhar, expõe o comportamento preventivo de adoecer ou promover saúde.8
REFERÊNCIAS
- BERTOLOTE, J. M. O suicídio e sua prevenção. São Paulo: Unesp, 2012.
- UMA EM CADA 100 MORTES OCORRE POR SUICÍDIO, REVELAM ESTATÍSTICAS DA OMS. Organização Pan-americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde, 2021. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2021-uma-em-cada-100-mortes-ocorre-por-suicidio-revelam-estatisticas-da-oms> Acesso em 24, de ago.2021
- 3. MINISTERIO DA SAUDE. Boletim Epidemiológico – Mortalidade por suicídio e notificações de lesões autoprovocadas no Brasil, Volume 52, P.3 a 7, Set, 2021. Disponível em < https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2021/boletim_epidemiologico_svs_33_final.pdf>. Acesso me 24, de ago. 2022.
- PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: MANUAL DIRIGIDO A PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE MENTAL. Ministério da Saúde – Brasil Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio. CVV. Disponível em <manual_prevencao_suicidio_profissionais_saude.pdf>. Acesso me 24, de ago.2022.
- GUIA INTERSETORIAL DE 2019- PREVENÇÃO DO COMPORTAMENTO SUICIDA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Disponível em<https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20190837/26173730-guia-intersetorial-de-prevencao-do-comportamento-suicida-em-criancas-e-adolescentes-2019.pdf>.Acesso em ago. de 2022.
- MINISTERIO DA SAUDE. O que é a Política Nacional de Saúde Mental? Disponível em <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-mental> Acesso em ago. 2022.
- Lades LK, Laffan K, Daly M, Delaney L. Bem-estar emocional diário durante a pandemia de COVID-19. Br J Saúde Psicológica,2022. Disponível em <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32573074/> Acesso em Ago.2022.
Fernanda Ferreira da Costa
Enfermeira formada pela Faculdade Anhembi Morumbi, Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria pela Faculdade de Medicina do ABC, Gerenciamento de Enfermagem pela ABEN PUCPR em andamento, atualmente Supervisora de enfermagem no Hospital Municipal Luzia de Pinho Melo.