A reabilitação de pessoas com estomia requer uma abordagem multidimensional, sensível e personalizada, que leve em conta as particularidades de cada indivíduo. Quando a pessoa com estomia apresenta uma necessidade especial, como a surdez, essa abordagem se torna ainda diferenciada, pois é necessário adaptar as estratégias de comunicação e suporte para atender às necessidades específicas1,2.
A existência de uma estomia, pode ser um grande desafio para a pessoa, pois altera a rotina de cuidados pessoais, necessitando de um processo adaptativo. Quando associada a surdez, esses desafios se ampliam, exigindo ainda mais atenção em relação à comunicação, à acessibilidade e ao suporte emocional2.
O consenso Brasileiro de estomaterapia1, orienta sobre a importância da comunicação aberta e clara com as pessoas com estomias, para aumentar a probabilidade de expressão dos sentimentos e ajuda na aceitação da nova imagem corporal. A comunicação é um dos pilares fundamentais para a reabilitação. No caso das pessoas surdas, é essencial que o(a) enfermeiro(a) Estomaterapeuta esteja preparado(a) para utilizar métodos de comunicação adequados, como a Libras (Língua Brasileira de Sinais) ou leitura labial, garantindo que o paciente compreenda as orientações e participe ativamente de seu processo de reabilitação.
Existem entraves de comunicação entre os profissionais de saúde ouvinte e o paciente surdo4. As dificuldades de comunicação e de informação entre os especialistas Estomaterapeutas que prestam assistência à pessoa com estomia podem comprometer o cuidado e a reabilitação. É fato que as pessoas com surdez, em sua maioria, ao terminar uma consulta de saúde, não compreendem seu problema. No caso da reabilitação da pessoa com estomia surda, este problema também pode se apresentar.
O(A) enfermeiro(a) Estomaterapeuta deve se preocupar com a comunicação efetiva, para que o sucesso da reabilitação seja alcançado. Infelizmente, os profissionais de saúde não são preparados para atender pessoas com surdez que se comunicam principalmente pela língua de sinais, e há também um desconhecimento sobre as maneiras distintas que as pessoas surdas se comunicam.1,4
A falta de uma comunicação clara pode gerar frustração, insegurança e até mesmo complicações, pois a pessoa com estomia precisa entender corretamente as orientações sobre os cuidados relacionados a higiene, adaptação do equipamento coletor e às atividades de vida diária1.
Além disso, a comunicação eficaz permite que a pessoa expresse suas necessidades emocionais e psicológicas, que também podem ser impactar a adaptação à estomia1.
A reabilitação deve considerar os aspectos emocionais, físicos e sociais do indivíduo. No caso das pessoas com surdez e com estomia, o Enfermeiro(a) Estomaterapeuta precisa estar ciente das barreiras que a deficiência auditiva pode gerar, como a dificuldade de acesso a informações corretas, e trabalhar para criar soluções adaptadas. Por exemplo, pode ser necessário o uso de tecnologias assistivas, como vídeos com legendas, aplicativos de comunicação por texto, ou até mesmo a presença de intérpretes de Libras durante as consultas. Essas adaptações podem ajudar a garantir que a pessoa surda tenha acesso pleno a todas as informações necessárias4.
A adaptação à estomia pode gerar um impacto emocional significativo2, tanto para pessoas surdas quanto para as que não possuem essa deficiência. Para as pessoas surdas, esse impacto pode ser agravado pela dificuldade de comunicação4 com o(a) Estomaterapeuta o que pode levar a sentimentos de isolamento e ansiedade. A reabilitação não deve se limitar aos cuidados físicos, mas também envolver o suporte emocional e o contexto social da pessoa. A escuta ativa, a e a promoção de um ambiente de acolhimento são essenciais para ajudar a pessoa surda a lidar com as mudanças em seu corpo e sua nova rotina de cuidados. Além disso, é importante que a pessoa se sinta parte de sua rede de apoio, com acesso à comunicação e a informações que promovam sua independência e autoestima.
Para o sucesso da reabilitação da pessoa com estomia, é fundamental o acesso aos cuidados especializados, no caso da pessoa surda com estomia, além de acessível o cuidado deve ser inclusivo.
Referências
- Paula MAB, Moraes JT. Consenso Brasileiro de Cuidado às Pessoas Adultas com Estomias de Eliminação 2020.- 1. ed. — São Paulo : Segmento Farma Editores, 2021.
- Brigolini PFP., Sabrina C, Lindgren, T , COX, J., Souza VDOS. Assistencia da(o) Enfermeira(o) Estomaterapeuta na Perspectiva da Pessoa com Estomia. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/507
- Oliveira EM, Ferreira WFS. Dimensões da Comunicação em Serviços de Saúde: Uma revisão da Literatura. Revista da Universidade do Vale do Rio Verde. 2020;18(1).
- Nóbrega JD, Munguba MC, Pontes, RJS. Atenção à Saúde e Surdez: Desafios para Implantação da Rede de Cuidados à pessoa com Deficiência. Rev Bras Promoç Saúde, Fortaleza, 30(3): 1-10, jul./set., 2017
Eliane Serafim Sponton
Enfermeira Estomaterapeuta – TiSOBEST
Assessora do Departamento de Comunicação e Marketing da SOBEST Gestão 2021-2023
Enfermeira Sênior da Clínica Convacare – Líder da área de Estomias.
Professora convidada dos cursos de pós-graduação em Estomaterapia.