Lesão por Pressão e sua Prevenção: Qual o Caminho para dar certo?

Lesão Por Pressão e Sua Prevenção: Qual o Caminho Para Dar Certo?

Anualmente, em todo o mundo, no mês de novembro são realizadas campanhas e outras atividades de conscientização para a Prevenção de Lesão por Pressão (LP). Várias referências abrangem o conceito, estadiamento e cuidados relacionados ao diagnóstico de enfermagem, ações preventivas e/ou curativas destas lesões. A data tem por objetivo sensibilizar e disseminar informações sobre a temática, incentivando os profissionais de saúde, familiares e cuidadores sobre a importância da prevenção, visto que na maioria das vezes essas lesões são evitáveis.

No Brasil, desde 2014, a Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST) criou a campanha “Mude de lado e evite a pressão” para divulgar a importância das orientações relacionadas ao reposicionamento do paciente (MUDE DE LADO) e a realização de medidas preventivas pelos profissionais, cuidadores e pelo próprio paciente (EVITE A PRESSÃO).

Então, qual é o motivo pelo qual temos ainda na maioria dos contextos de cuidado brasileiro, uma elevada incidência e prevalência desse agravo? Sabemos o quanto essas lesões são frequentes, graves e desencadeiam vários desfechos negativos; seja para o paciente, familiares e custos relacionados aos cuidados e assistência à saúde; muitas vezes levando à longas internações, processos infecciosos e até a morte por complicações como a sepse.

A condição agrava-se especialmente quando a lesão apresenta perda de espessura total, ou seja, quando estadiadas nas categorias 3 ou 4; e, sendo consideradas never events. Isso quer dizer que é o mais flagrante dos incidentes de segurança do paciente, referindo-se a eventos que teoricamente nunca deveriam acontecer. Isso nos permite uma analogia, reportando que uma Lesão por Pressão de categoria 3 ou 4 é tão grave quanto a realização de uma cirurgia em um paciente errado.

Mas então por que acontecem? Qual a responsabilidade de Estomaterapeutas, profissionais de saúde, cuidadores, gestores de saúde e outros atores envolvidos nesse processo de cuidar?

De acordo com o Relatório nacional de incidentes relacionados à assistência à saúde, notificados ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, no período de 2014 a 2022, 223.378 (20,30%) casos de LP foram notificados, sendo o segundo tipo de evento mais frequentemente notificado pelos serviços de saúde do país.

Infelizmente, mesmo já amplamente solidificado por painéis mundiais e consensos internacionais, muitos profissionais de saúde ainda possuem dificuldades em relação à identificação de LP, a compreensão sobre seu conceito e adoção de medidas preventivas. Vários profissionais ainda utilizam a terminologia inadequada para descrição da Lesão por Pressão, intitulando-a como uma escara; o que na verdade é um dos estadiamentos da Lesão por Pressão.

De acordo com a National Pressure Injury Advisory Panel (NPIAP), European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) e a Pan Pacific Pressure Injury Alliance (PPPIA), LP é um dano localizado na pele e/ou tecidos moles subjacentes como resultado da pressão ou da pressão em combinação com a fricção, usualmente sobre uma proeminência óssea ou relacionadas a um dispositivo médico ou outro objeto. Esses conceitos são validados para o português pelas sociedades de especialistas da Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST) e da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia (SOBENDE).

É importante ampliar nossa visão a respeito da prevenção dessas lesões, atentando para aspectos intrínsecos e extrínsecos ao paciente; a fim de nortear as ações de cuidado. Dentre esses fatores merecem destaque: avaliação e inspeção diária da pele; utilização nos serviços de saúde de escalas preditivas para classificação de risco para lesão de pele; utilização diária de creme hidratante corporal; controle da umidade da pele (microclima); otimização da nutrição e hidratação; redução das forças de pressão, fricção e cisalhamento na pele. Os detalhamentos desses cuidados podem ser encontrados na última nota técnica da Anvisa (nº 05/2023), que versa sobre as Práticas de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Prevenção de Lesão por Pressão.

Cabe destacar que, alguns desses cuidados podem ser realizados pelos próprios pacientes e cuidadores desde que estimulada essa autonomia. Esses cuidados incluem a hidratação da pele, os reposicionamentos no leito e a vigilância em relação à altura da cabeceira do leito. Enquanto profissionais de saúde, é nossa função orientar e estimular esses cuidadores e o paciente para tal.

Outro aspecto importante é a notificação desse incidente, o que pode ser feito pelos pacientes e/ou profissionais de saúde na ficha de notificação de eventos adversos do Núcleo de Qualidade e Segurança do Paciente da instituição e/ou pelo sistema NOTIVISA; no módulo Cidadão acessando aqui.

Por fim parafraseamos a Anvisa, quando essa aponta que a lesão por pressão e a sua prevenção são consideradas metas de segurança do paciente e responsabilidade da equipe multidisciplinar em todos os níveis de atenção do sistema de saúde.

Portanto, estejamos atentos, disponíveis e engajados para o sucesso da prevenção da Lesão por Pressão! Esse é o único caminho para dar certo…

Referências

Juliana Balbinot Reis Girondi

Prof.ª Dr.ª Juliana Balbinot Reis Girondi
ET TiSOBEST
Presidente da Sessão SOBEST Santa Catarina

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