Janeiro Roxo: Cuidado que vai além das manchas

JANEIRO ROXO: CUIDADO QUE VAI ALÉM DAS MANCHAS

A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, causada pela infecção do Mycobacterium leprae que possui grande potencial para contaminação das pessoas, porém apresenta baixo potencial para provocar a doença. Acomete em especial os nervos superficiais e periféricos da pele causando manchas dormentes na pele, afetando os olhos, nervos da face, mãos e pés resultando em incapacidades físicas. (FISCHER, 2017; BRASIL, 2017; ALEMU BELACHEW e NAAFS, 2019). 

A sua ocorrência é relatada desde a antiguidade, (antes mesmo de Cristo) e desde os primórdios já era uma doença que gerava estigma, exclusão e muito preconceito, dessa forma a pessoa com hanseníase era excluída da sociedade e passava a viver isolada. Destaca-se que a falta de informação acerca da transmissão e do tratamento da doença era e continua sendo o principal fator gerador de estigma. 

Embora seja uma doença antiga somente a partir de 1980, com os estudos de Gerhard Hansen é que houve a introdução do tratamento poliquimioterápico (PQT). No Brasil estes medicamentos são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A PQT é uma associação entre Rifampicina, Dapsona e Clofazimina, e o esquema é baseado na idade, no peso e na classificação operacional da doença. Esta classificação dividi se em paucibacilar (quando o indivíduo apresenta até 5 manchas), nesse caso o tratamento dura em média seis meses ou multibacilar (quando o indivíduo possui mais de 5 manchas pelo corpo), e o tratamento dura 12 meses podendo prolongar até 18 meses. 

O protocolo inclui, doses supervisionadas para ambos os casos de Rifampicina e Clofazimina mensais, além das doses diárias autoadministradas (Brasil, 2020). Ademais, em virtude de possíveis reações hansênicas, pode-se acrescer corticoesteroides, como a Prednisolona (reação tipo 1) ou Talidomida (reação tipo 2), ou seja, o tratamento da Hanseníase é longo e complexo (PESSOA, 2019). 

A prevalência da hanseníase está associada ao baixo nível educacional, precárias condições de moradia da população de baixa renda, bem como a dificuldade de acesso e/ou qualidade do sistema de saúde e investimento insuficiente em prevenção desse agravo à saúde (santos et al., 2019). 

Ressalta-se a importância do tratamento da doença ainda nos estágios iniciais, pois é essencial para evitar deficiências e reações indesejadas, além de ajudar na vigilância e controle da doença (Govindharaj et al., 2018). Neste sentido, torna-se necessária que as ações de promoção de saúde sejam mais bem planejadas e a vigilância epidemiológica seja fortalecida, para que a hanseníase deixe de ser um sério problema de saúde pública, e que o Brasil deixe de ser segundo lugar mundial em casos de hanseníase.

No Brasil, o início da Estratégia Saúde da Família, ocorreu o aumento do acesso da população aos serviços de atenção básica, resultando em diagnóstico precoce, possibilidade de instituir o tratamento adequado, evitando complicações da doença. 

Ressalta-se, porém, que a hanseníase é uma doença silenciosa, que causa hipoestesia devido a neuropatia periférica, favorecendo o retardo no diagnóstico, dessa forma, é frequente o relato pelos pacientes de um longo itinerário terapêutico até o diagnóstico devido o desconhecimento de alguns profissionais em relação a doença. 

Dessa forma, com o aparecimento da mancha, o curso da doença já pode ser longo e o indivíduo apresentar algumas complicações tais como a neuropatia periférica atingindo os pés, e neste sentido, a o enfermeiro Estomaterapeuta tem um papel extremamente importante na orientação quanto aos cuidados preventivos e no tratamento de lesões que possam acometer o corpo e os pés destes indivíduos.

Com esta perspectiva, o “Projeto Meu querido pé”, coordenado por uma enfermeira estomaterapeuta, realizado em um centro de referência de hanseníase na cidade de Teresina no estado do Piauí com apoio da ONG Netherlands Hanseniasis Relief (NHR) no Brasil atendeu 44 pacientes e evidenciou o elevado número de ulcerações, até mesmo amputação de pé relacionadas a ausência de sensibilidade por consequência da hanseníase. 

Com a avaliação e tratamento adequado, foi possível a cicatrização de ulcerações de mais de dez anos de evolução.

Ressalta-se que o tratamento foi integrado com a equipe multidisciplinar porque é essencial, nos casos de ulcerações, suporte para confecção de palmilhas, sapatos adaptados, fornecimento de bengalas, juntamente com tratamento psicológico, fisioterápico, nutricional e com o terapeuta ocupacional.

Juntos contra a hanseníase sem sequelas.

Desta forma lembramos que o cuidado vai muito além das manchas, e um assistência especializado pode fazer toda a diferença.

Sandra Marina Gonçalves Bezerra

Sandra Marina Gonçalves Bezerra
Professora Adjunta da Universidade Estadual do Piauí e coordenadora da Pós-graduação em Estomaterapia da UESPI, Membro do Programa Programa de Mestrado profissional em Biotecnologia de Saúde Humana e Animal (PPGBiotec), Coordenadora da Liga de Estomaerapia da UESPI, Coordenadora do Projeto Meu Querido Pé em pessoas com Diabetes e Hanseníase, Diretora do Departamento de Relações Seccionais SOBEST® e Delegada internacional junto ao WCET® (2019-2020 e 2021-2023).

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