A incontinência urinária é definida como perda involuntária de urina, considerada um sintoma que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tem consequências negativas e subestimadas para o bem-estar pessoal e social1. Embora seja mais comum em mulheres, também pode afetar os homens, atingindo até 32% dessa população, especialmente após a remoção cirúrgica da próstata, irradiação prostática ou cirurgia para hiperplasia prostática benigna2,3.
Podemos classificá-la em quatro subtipos: incontinência urinária de esforço, incontinência urinária de urgência, incontinência urinária por transbordamento e incontinência urinária mista4.
Daremos neste breve relato, destaque para incontinência urinária de esforço por ser a mais comum em nosso meio, sendo sua prevalência entre as mulheres, afetando aproximadamente 30% daquelas com idades entre 45 e 60 anos, atingindo as mais jovens, com uma incidência significativa entre os 45 e 49 anos. Esta condição é caracterizada pela liberação involuntária de urina durante atividades que aumentam a pressão intra-abdominal acompanhada pela ausência de contração da bexiga como tossir, rir, espirrar ou praticar atividades físicas5. Com relação aos fatores de risco na população adulta, pode-se incluir obesidade, número elevado de partos vaginal e instrumental, trabalho de parto prolongado, laceração e menopausa6, fatores esses que contribuem para o enfraquecimento do assoalho pélvico.
Exercendo minhas funções como enfermeira estomaterapeuta em um ambulatório de um hospital privado da grande São Paulo junto a pacientes com incontinência urinária por esforço, descreverei a assistência visando abordar o tratamento para esse fim.
É de suma importância a realização da anamnese e do exame físico na primeira consulta a fim de caracterizar o tipo de incontinência, sendo imprescindível a utilização de um instrumento de avaliação.
Investigando doença de base, medicamentos em uso, número e tipo de parto, cirurgias obstétricas e ginecológicas, bem como as características da incontinência (tempo de início dos sintomas, tratamentos anteriores, frequência das perdas, condições em que ocorrem as perdas, uso e tipo de proteção, frequência das trocas, condições que permanecem a proteção – se úmida, molhada ou encharcada), função intestinal (hábito intestinal, tipo de fezes conforme a escala de Bristol), tipo de dieta, ingestão hídrica, peso corporal, aspecto da urina (coloração, odor episódios de infecção urinária) e avaliação dos exames urológicos incluindo o estudo urodinâmico7.
Finalizada entrevista e anamnese daremos início ao exame físico para avaliação de força de contração da musculatura do assoalho pélvico através do toque vaginal aplicando Escala de Perfect, onde se permite constatar se a mulher tem a percepção dessa musculatura bem como grau de contração, sustentação e relaxamento desses músculos. Com essa avaliação seremos assertivos na conduta a ser tomada no início do tratamento e, concomitantemente, estaremos identificando e classificando prolapsos vaginais quando presentes.
O objetivo principal durante o tratamento é o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico e para tal lançamos mão do biofeedback, eletroestimulação e treinamento muscular.
O biofeedback é um aparelho que permite ao cliente adquirir a propriocepção cognitiva dos músculos do assoalho pélvico através do recrutamento dos músculos corretos evitando utilizar outras musculaturas acessórias sendo possível o aprendizado da contração e do relaxamento muscular através de sinais visuais ou sonoros transmitidos pelo aparelho. Esse método ajuda a fortalecer a contração, sustentação, coordenação, bem como a velocidade da resistência dos músculos por meio de exercícios planejados de contração e relaxamento voluntário8.
A eletroestimulação consiste em uma corrente elétrica permitindo estimular os músculos do assoalho pélvico visando seu fortalecimento e ajudando a controlar a bexiga, fazendo uma redução de micção em casos de incontinência urinária de urgência9.
Por fim, o treinamento muscular está relacionado à reabilitação da musculatura do assoalho pélvico quanto à força, resistência, relaxamento, alongamento e coordenação permitindo o suporte estrutural do corpo ensinando a contrair e relaxar os músculos dessa região, promovendo a melhoria e progressão do controle funcional10,.
Reconhecer a importância do conhecimento sobre a incontinência urinária é crucial, pois essa condição, embora comum, muitas vezes não é devidamente diagnosticada, o que pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos indivíduos afetados. Uma abordagem ampla do problema, por meio de conscientização, prevenção e educação com acesso a tratamentos adequados, torna-se essencial para aprimorar o manejo e a qualidade de vida dos pacientes afetados por essa condição.
Referências Bibliográficas
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2. NASCIMENTO, F. H. et al. Incontinência urinária: aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e manejo terapêutico. Brazilian Journal of Development., v. 8, n. 10, out. 2022.
3. MAZUR-BIALY, A. et al. Physiotherapy as an Effective Method to Support the Treatment of Male Urinary Incontinence: A Systematic Review. Journal of Clinical Medicine, v. 12, n. 7, p. 2536, 27 mar. 2023
4. SALO, H. et al. Urinary incontinence associates with poor work ability in middle-aged women: A Northern Finland Birth cohort 1966 study. Acta Obstetricia Et Gynecologica Scandinavica., v. 103, n. 3, p. 572–579 mar.2024.
5. CLEMENS, J. Q.; O’LEARY, M. P.; LAW, K. Urinary incontinence in men. UpToDate. 2024. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/urinary-incontinence-in-males.
6.TAHRA, A.; BAYRAK, O.; DMOCHOWSKI, R. The Epidemiology and Population-Based Studies of Women with Lower Urinary Tract Symptoms: A Systematic Review. Türk Üroloji Dergisi/Turkish Journal of Urology., v. 48, n. 2, p. 155–165, abr. 2022.ault&display_rank=1>. Acesso em: nov.1 2024.
7.LUKACZ, E. S. et al. Female urinary incontinence: Evaluantion. UpToDate.2024. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/female-urinary-incontinence-evaluation
8.SILVA, A. F.; LIMA, I. S.; APOLÔNIO, J. K. C.; PEREIRA, R. G. B. Biofeedback como tratamento fisioterapêutico da incontinência urinária de esforço. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação —REASERevista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v. 10, n. 11, nov. 2024. ISSN: 2675-33753852
9. GUERRA, M. J. J. et al.. Validation of the “international consultation on incontinence questionnaire urinary incontinence quality of life”. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 44, p. e20220015, 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2023.20220015.en. Disponível AVANÇOS NA GINECOLOGIA 20 em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/QTN69RCm9GY4RQK9wZnFSkP/?lang=pt#. Acesso em: 1/12/2024.
10. Bo K, Frawley HC, Haylen BT, Abramov Y, Almeida FG, Berghmans B, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for the conservative and nonpharmacological management of female pelvic floor dysfunction. Int Urogynecol J. 2017; 28(2):191-213. doi: https://doi.org/10.1002/nau.23107.
Elisabete Capalbo Ferolla
Graduação em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem São José.
Habilitação em Enfermagem Médico Cirúrgica pela Faculdade Adventista de Enfermagem.
Administração em Enfermagem pela Faculdade São Camilo.
Especialização em Enfermagem em Estomaterapia pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Mestrado em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Enfermeira Estomaterapeuta do Hospital Cruz Azul de São Paulo – atuando em feridas, estomias e incontinências.