Diabetes Mellitus: Impactos que Ultrapassam o Controle da Glicemia

Diabetes Mellitus: Impactos que Ultrapassam o Controle da Glicemia

O Diabetes Mellitus (DM) atualmente é uma das condições crônicas mais crescente no mundo. Mesmo com novas tecnologias de monitorização e terapias, e com maior detecção precoce, o número de pessoas vivendo com a doença segue em ascensão, impulsionado, entre outros fatores, pelo envelhecimento populacional. Em 2024, o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF) estimou 589 milhões de adultos tinham DM -uma em cada nove pessoas – com projeção de 853 milhões até 2050. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reforça que a prevalência dobrou nas últimas décadas e segue aumentando, sobretudo em países de baixa e média renda.

Viver com DM vai muito além do controle glicêmico. A doença interfere em todo o processo de viver da pessoas, afetando não só sua condição física, mas interferindo em atividades do cotidiano: no lazer, no trabalho e na autonomia. Quando mal controlada pode ainda comprometer visão, rins, coração, vasos e nervos, com impacto direto na mobilidade e na capacidade de realizar atividades diárias. A OMS descreve essas complicações—incluindo infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e amputações—como causas centrais de incapacidade e mortalidade relacionadas ao DM.

Entre os desfechos mais desafiadores estão as feridas relacionadas ao DM. A combinação de neuropatia e doença vascular favorece o surgimento de úlceras de difícil cicatrização e infecções recorrentes, elevando significativamente o risco de amputação. A literatura, assim como a prática clínica dos Estomaterapeutas, destacam que uma parcela expressiva das amputações é precedida por úlceras nos pés—revelando uma janela crítica para prevenção, educação em auto cuidado e abordagem interdisciplinar. O Ministério da Saúde também ressalta que aproximadamente um quarto das pessoas com DM desenvolverá úlcera nos pés ao longo da vida.

No Brasil, os números de amputações são elevados e preocupantes. Análise nacional do SUS (2008–2020) identificou 633.455 amputações de membros inferiores, com tendência de crescimento e o diabetes despontando como diagnóstico associado cada vez mais frequente. Também dados recentes de órgãos e sociedades apontam milhares de amputações anuais. Esses desfechos reduzem qualidade de vida, aumentam custos, afastam do trabalho e ampliam a demanda por reabilitação.

Reduzir esses impactos exige cuidado contínuo e integrado: educação em saúde, adesão terapêutica, rastreio/controle de fatores de risco, avaliação regular dos pés, acesso oportuno a serviços especializados e atuação interprofissional (com papel central de Enfermagem e Estomaterapia) para prevenir, tratar e reabilitar —evitando infecções e amputações.

Prevenir é salvar pés, vidas e histórias! Por isso reforçamos a importância de:

✅ Avaliação periódica dos pés em todos os pacientes com diabetes.

✅ Educação em auto cuidado – inspeção diária dos pés, hidratação e uso de calçados adequados.

✅ Encaminhamento precoce para equipes especializadas e estomaterapeutas.

✅ Implementação de protocolos baseados em evidências para prevenção e manejo de feridas.

Identificar riscos para desenvolvimento de feridas e amputações também é ponto importante de esclarecimentos! Por isso reforçamos a importância de ensinar ao paciente/família e cuidadores a vigilância sob esses riscos: calos, fissuras ou rachaduras nos pés; feridas que não cicatrizam em até duas semanas; sensação de “pé dormente” ou perda de sensibilidade; sapatos apertados provocando bolhas ou machucados; unhas encravadas ou infecções recorrentes.

Cuidar do diabetes é cuidar da autonomia, da mobilidade e da dignidade das pessoas!

Referências bibliográficas

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Erzinger FL et al. Diretrizes brasileiras para o cuidado do pé diabético. Jornal Vascular Brasileiro, v. 23, supl. 1, p. 1-35, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jvb. Acesso em: 2 nov. 2025.

Juliana Balbinot Reis Girondi


Juliana Balbinot Reis Girondi

Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação Gestão do Cuidado em Enfermagem- Modalidade Profissional da Universidade Federal de Santa Catarina. Estomaterapeuta pelo Hospital Albert Einstein, TiSOBEST. Presidente da Seção SOBEST Santa Catarina. Editora Associada da Revista Estima. Vice-líder do Laboratório de Pesquisas e Tecnologias em Enfermagem, Cuidado em Saúde a Pessoas Idosas (GESPI/UFSC). Membro do Laboratório de Pesquisa e Tecnologias para o Cuidado de Saúde no Ambiente Médico-Cirúrgico (LAPETAC/UFSC), do Laboratório de Pesquisa HUB de Tecnologia e Inovação em Saúde e Enfermagem e do Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada (GAO/UFSC). Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected]

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