O processo de cicatrização envolve fenômenos fisiopatológicos complexos, especialmente em feridas crônicas e/ou infectadas, tornando o manejo da lesão um desafio. Há diversas tecnologias disponíveis voltadas para o tratamento de feridas, entre elas, a fotobiomodulação utilizando o Laser de Baixa Intensidade1.
A palavra Laser é proveniente da língua inglesa (Light Amplification By Stimulated Emission of Radiation) e teve seus princípios descritos pela primeira vez por Albert Einstein em 1917 como uma luz colimada, monocromática e coerente; visível ou invisível. A fotobiomodulação (terapia com laser de baixa intensidade) é definida como “a aplicação de uma radiação não ionizante em forma de luz com a pretensão de cura”; tratando-se da emissão de fótons por meio de uma irradiação não térmica que altera a resposta biológica dos tecidos2,3.
Ao longo dos anos foram feitas diversas pesquisas para utilizar seus benefícios de forma minimamente invasiva e atualmente sabe-se que melhores resultados na área da saúde são obtidos com o uso da luz vermelha e infravermelha, com comprimentos de onda entre cerca de 650nm a 980nm. Suas propriedades são úteis em diversas condições clínicas, inclusive para a cicatrização de feridas2,3.
O uso do Laser de Baixa Intensidade, popularmente conhecido como “laserterapia” é uma terapia adjuvante que atua acionando mecanismos de sinalização celular por meio da absorção da luz pelos cromóforos, ativando a produção de ATP, e consequentemente inicia-se uma cascata de eventos a nível molecular, celular e tecidual3,4.
Tais eventos levam à uma modulação do tecido irradiado, que inclui a restauração da função celular, redução do estresse oxidativo, regulação neuronal e liberação de fatores de crescimento3.
Quando aplicada ao tratamento de feridas, resulta em inúmeros benefícios pois possui ação anti-inflamatória e analgésica; proporciona síntese de colágeno maior e mais ordenada, promove migração e proliferação de fibroblastos, acelera o processo de reparação tecidual favorecendo o crescimento dos tecidos de granulação e epitelização2,3,6.
Além dos benefícios descritos acima, também possui ação antimicrobiana, em lesões infectadas pode ser realizada a terapia fotodinâmica (com laser vermelho) em conjunto com o corante azul de metileno ou azul de toluidina, o qual absorve a energia do laser e promove ação citotóxica aos microorganismos7.
É uma terapia indicada para o tratamento em feridas de diversas etiologias, possibilitando bons resultados na cicatrização de úlceras venosas, úlceras arteriais; lesões no pé de pessoas com diabetes, queimaduras, lesão por pressão, feridas cirúrgicas, entre outras 2-6.
De acordo com a resolução 567/2018 do COFEN (Conselho Federal de Enfermagem), o enfermeiro pode utilizar a terapia com laser para o tratamento de feridas, desde que devidamente capacitado. O parecer técnico 114/2021 do referido conselho elucida que não há impedimentos para que o enfermeiro também faça uso da terapia ILIB (Irradiation Laser Intravenous of Blood) como adjuvante em diversos tratamentos. Esta terapia consiste na administração do laser transcutâneo na região da artéria radial com o objetivo de atingir a corrente sanguínea, beneficiando o paciente com ativação do sistema imunológico, redução de radicais livres, redução de níveis pressóricos e glicêmicos8,9.
O enfermeiro Estomaterapeuta é protagonista no tratamento de feridas, pois utiliza técnicas baseadas em evidências científicas para promover a cicatrização. O laser faz parte dessas técnicas, auxiliando no processo de regeneração tecidual, ofertando os benefícios de aceleração da cicatrização, redução da dor, edema, inflamação e infecção; corroborando também para maior conforto do paciente.
REFERÊNCIAS
1 Cunha, JLS et al. Effects of Different Protocols of Low-Level Laser Therapy on Collagen Deposition in Wound Healing. Brazilian Dental Journal [online]. 2019, v. 30, n. 4 [Accessed 23 August 2022], pp. 317-324. Available from: <https://doi.org/10.1590/0103-6440201902400>. Epub 22 July 2019. ISSN 1806-4760. https://doi.org/10.1590/0103-6440201902400.
2 Arjmand B, Khodadost M, Jahani Sherafat S, et al. Low-Level Laser Therapy: Potential and Complications. J Lasers Med Sci. 2021 Aug 4;12:e42. doi: 10.34172/jlms.2021.42. PMID: 34733765; PMCID: PMC8558713.
3 Leyane TS, Jere SW, Houreld NN. Cellular Signalling and Photobiomodulation in Chronic Wound Repair. Int J Mol Sci. 2021 Oct 18;22(20):11223.
4 Sales RS, Dantas JBL, Medrado, ARAP. Uso da fotobiomodulação laser no tratamento de úlceras venosas: uma revisão sistemática. Arq Cien Saude UNIPAR. 2022; 26 (1),65-73.
5 Brandão MGSA; Ximenes MAM; Ramalho AO; Veras VS; Barros LM; Araújo TM. Efeitos da laserterapia de baixa intensidade na cicatrização de úlceras nos pés em pessoas com diabetes mellitus. ESTIMA, Braz. J. Enterostomal Ther., 2022; 18: e0320.
6 Andrade AG, Lima CF, Albuquerque AKB. Efeitos do laser terapêutico no processo de cicatrização das queimaduras: uma revisão bibliográfica. Rev Bras Queimaduras. 2010; 9(1):21-30.
7 – Domingues EAR, Urizzi, F, de Souza, FR. Efeito da terapia fotodinâmica em feridas agudas e crônicas: revisão de escopo. Revista Enfermagem Atual In Derme. 2022; 96(38).
8 CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Anexo da Resolução n° 567/2018.Regulamento da atuação da equipe de enfermagem no cuidado aos pacientes com feridas. Brasilia, DF, janeiro de 2018. Disponivel em: http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/ANEXO-RESOLUÇÃO-567-2018.pdf.Acesso em: 23 ago. 2022.
9 CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Parecer de câmara técnica 114/2021. Atuação do Enfermeiro na Irradiação Intravascular a Laser no Sangue – ILIB.Brasilia, DF, dezembro de 2021. Disponivel em: http://www.cofen.gov.br/parecer-de-camara-tecnica-n-114-2021-ctas-cofen_98325.html. Acesso em: 23 ago. 2021.
Enf ª ET Daniela Tinti Moreira Borges
Graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2006), Pós graduação em Enfermagem Oncológica pela FAMERP (2008), Enfermagem em Urgência e Emergência pela FAI (2011), Mestre Profissional em Ciências pela UNIFESP/SP (2018), Estomaterapeuta pela FAMERP/SP (2019), Docente de Graduação em Enfermagem na AEMS – Faculdades Integradas de Três Lagoas/MS (2019-2022), Tratamento avançado de feridas em domicílio na cidade de Mirandópolis/S.P. desde 2018, Membro pleno da Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST®), membro do Comitê Científico da Seção MS da SOBEST, membro do World Council of Enterostomal Therapists (WCET).