No dia 20 de novembro, celebramos o Dia da Consciência Negra no Brasil. Esta data nos convida a refletir sobre a contribuição da cultura negra em nossa sociedade e a reconhecer a importância da busca por justiça e igualdade, direitos que todos os cidadãos devem ter. É um momento para lembrar figuras históricas como Zumbi dos Palmares, que lutou contra a opressão e pela liberdade, simbolizando a resistência e a resiliência da população negra.
Ao considerarmos a prática assistencial da Enfermagem em Estomaterapia, é essencial focar no tratamento adequado e na prevenção de feridas, que inicia-se com a avaliação da pele. Tal avaliação deve envolver uma inspeção completa, incluindo a análise da tonalidade basal da pele, que deve ser feita com sensibilidade e atenção às particularidades de cada paciente.
Qualquer alteração na pele do paciente deve ser monitorada e identificada precocemente. A pele negra não deve ser vista como um desafio na prática assistencial, especialmente em nosso país, onde a população negra e parda representa 55,5% da população total, ou aproximadamente 113 milhões de pessoas, segundo o IBGE (2022). Isso destaca a necessidade de formação adequada para os profissionais de saúde, garantindo que todos sejam capacitados para reconhecer e tratar condições que afetam diferentes tonalidades de pele.
Existem diversos instrumentos que nos auxiliam na identificação da tonalidade correta da pele. O mais conhecido é a Escala de Fitzpatrick (1988), que avalia a tonalidade da pele em relação à exposição solar. No entanto, também dispomos de ferramentas mais recentes, como o Skin Tone Tool (2015), que consegue avaliar uma gama mais ampla de tonalidades.
Identificamos uma lacuna no reconhecimento dos sinais de feridas como sinais de infecção, eritema e perda da pele, especialmente em casos de dermatite associada à incontinência, lesões por pressão e outras condições em pacientes com pele de tonalidade escura. Essa lacuna pode resultar em diagnósticos tardios e tratamentos inadequados, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e informada na prática clínica.
Diante dessa realidade, devemos atentar a alguns pontos durante nossa atuação:
- Palpação: Na avaliação inicial, a palpação é uma ferramenta essencial para auxiliar no diagnóstico de certas lesões.
- Diálogo com o paciente: Ouvir o paciente sobre suas percepções de mudanças recentes na coloração da pele pode enriquecer a nossa avaliação. Perguntas como “Você sentiu alguma alteração na temperatura, coceira ou formigamento na pele?” e “Houve alguma mudança na coloração da pele?” são valiosas.
- Identificação de áreas anatômicas: Observar áreas onde a tonalidade se modifica e analisar o lado contralateral da lesão também pode favorecer a avaliação do profissional de saúde.
- Fotografia das lesões: Registrar as lesões não apenas ajuda no monitoramento das mudanças de coloração, mas também facilita a continuidade do cuidado e a comunicação com a equipe.
- Comunicação efetiva: Utilizar uma linguagem precisa ao discutir a tonalidade da pele com o paciente e a equipe-evitando termos como “mais claro” ou “mais escuro”-contribui para uma comunicação mais respeitosa e adequada.
É importante ressaltar que tonalidade de pele é diferente de etnia. Não hesite em promover um diálogo aberto com os pacientes; isso pode não apenas melhorar o cuidado, mas também contribuir para um ambiente de saúde mais respeitoso e acolhedor.
Referências Bibliográficas
1. Fitzpatrick TB. The validity and practicality of sun-reactive skin types I through VI.Arch Dermatol [Internet].1988 124(6):869-71. DOI:10.1001/archderm.124.6.869.
2. Dhoonmoon L, Nair HKR, Abbas Z et al (2023) International Consensus Document: Wound care and skin tone signs, symptoms and terminology for all skin tones. Wounds International. Disponível: https://woundsinternational.com/
3. Wounds UK (2021) Best Practice Statement: Addressing skin tone bias in wound care: assessing signs and symptoms in people with dark skin tones. Wounds UK, London. Disponível: www.wounds-uk.com
4. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Censo 2022. Disponível: Panorama do Censo 2022. (https://www.ibge.gov.br/)
Laís Del Moro Cespedes Wojastyk
Enfermeira Estomaterapeuta e Especialista em Oncologia.
Mestre em Ciências pela USP.
Enfermeira registrada nos EUA.
Autora, juntamente com a Prof.ª Vera Santos, da “Adaptação Cultural e Validação do GLOBIAD para o português do Brasil”, durante o processo de confiabilidade do instrumento realizamos a análise do diagnóstico da DAI em comparação com a tonalidade da pele do paciente.