O processo de cicatrização de feridas é complexo e depende de diversos fatores, incluindo a condição geral de saúde do indivíduo, o tipo de lesão e as condutas adequadas no tratamento da ferida. O uso de substâncias como álcool e drogas pode interferir negativamente nesse processo. O álcool, por exemplo, afeta diretamente o sistema imunológico, prejudicando a produção e a função das células de defesa, o que torna as feridas mais suscetíveis a contaminações e infecções persistentes. Além disso, o álcool pode causar dilatação dos vasos sanguíneos, aumentando o risco de sangramentos e hematomas na região da ferida, e interferir na produção de colágeno, proteína essencial para a regeneração da pele.
De forma semelhante, o consumo de outras drogas, como a cocaína, compromete a circulação sanguínea, reduzindo o fornecimento de nutrientes e oxigênio necessários para a reparação celular, o que retarda a cicatrização e aumenta o risco de complicações, como a necrose. O uso de álcool e drogas afeta a percepção da dor, o que pode mascarar sinais de complicações.
Essas substâncias também influenciam negativamente o estado nutricional do indivíduo, pois o consumo alimentar tende a se desregular conforme o uso dessas substâncias se intensifica, prejudicando a recuperação de pacientes com lesões que necessitam de cuidados. Além dos fatores físicos, aspectos psicossociais são significativamente afetados pelo uso crônico dessas substâncias, dificultando a adesão ao planejamento do tratamento, a compreensão das orientações do tratamento e comprometendo a rede de apoio necessária para a recuperação do paciente, que muitas vezes enfrenta abandono e isolamento em casos mais graves.
Para o enfermeiro, seja ele estomaterapeuta ou não, que enfrenta o desafio de cuidar de um paciente com uso crônico de álcool e/ou drogas é necessário um amplo conhecimento de opções de tratamento adequadas à condição específica do paciente. No entanto, apenas o conhecimento técnico não é suficiente; é fundamental uma compreensão mais profunda, facilitada por estudos específicos na área da psiquiatria, além de uma abordagem livre de estigmas em relação ao paciente. É necessário acolher e avaliar cada caso individualmente, oferecendo o melhor atendimento a esse paciente e sua família.
Referências Bibliográficas
– Gonçalves SSPM; Tavares CMM. Atuação do enfermeiro na atenção ao usuário de álcool e outras drogas nos serviços extra-hospitalares. Escola Anna Nery; Dez/2007.
– Oliveira MF, Souza AR, Moura ADA, Feitoza AR, Pontes RS, Percepção dos profissionais sobre um centro de atenção psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS – AD), Jun/2017.
Anderson Leite
Enfermeiro Especialista em Estomaterapia formado pelo Centro Universitário São Camilo em São Paulo.
Enfermeiro desde 2013 pela Universidade Nove de Julho.
Estomaterapeuta responsável pelo Grupo de Estudos em Feridas e Ostomias de uma unidade de serviço hospitalar da rede privada.
Membro da Sociedade Brasileira de Estomaterapia – SOBEST