Traqueostomia e Voz

Traqueostomia e Voz - Sobest

A voz é um fenômeno complexo que envolve diversos músculos e tecidos do aparelho fonador. Ela é gerada na laringe, através das pregas vocais, e é moldada pelas estruturas fonoarticulatórias. O conceito de qualidade vocal está intimamente ligado a aspectos fisiológicos, perceptivos e acústicos, e em algumas situações em que ocorre problemas na sua produção, o indivíduo encontra dificuldades em sua comunicação oral, não transmitindo adequadamente sua mensagem verbal e emocional.

Um dos fatores que afeta a qualidade da produção vocal é a presença da cânula de traqueostomia. O uso deste dispositivo modifica a anatomia e fisiologia do sistema respiratório, essencial para a vocalização. O uso da traqueostomia restringe a elevação da laringe seja devido a técnica cirúrgica adotada, tamanho e peso da cânula utilizada, ou status do cuff (insuflado ou não). Em termos fisiológicos, a cânula de traqueostomia desvia o fluxo de ar expirado para o estoma no pescoço, o que resulta em redução do fluxo e da pressão abaixo da glote. Isso pode levar a alterações na mobilidade e força dos músculos intrínsecos da laringe (pregas vocais), resultando em afonia ou disfonia de diferentes graus de severidade e características.

Indivíduos submetidos à laringectomias, que são as cirurgias de remoção parcial ou total da laringe, podem necessitar do uso temporário ou permanente de uma cânula de traqueostomia. Independentemente do tipo de laringectomia realizada, é inevitável que o paciente experiencie mudanças na voz ou até mesmo a completa perda da voz laríngea. A laringectomia total, que envolve a remoção completa da laringe, tem um grande impacto na vida do paciente, uma vez que o estoma respiratório é definitivo e a voz laríngea é perdida. Os métodos tradicionais de reabilitação da comunicação oral incluem o uso de voz esofágica, voz traqueoesofágica e laringe eletrônica.

Certamente, entre todas as consequências psicológicas enfrentadas pelo paciente submetido à laringectomia, a mais impactante é a perda da capacidade vocal. No entanto, o acesso a métodos de reabilitação, especialmente as próteses vocais, tem contribuído para superar essa sequela. A voz é o ponto mais crucial para quem foi submetido a estas cirurgias. A comunicação fica comprometida, alterando ou até mesmo impedindo a expressão de emoções e sentimentos. É essencial que o enfermeiro Estomaterapeuta e/ou generlaista forneça orientações desde o período pré-operatório, durante a internação e até o preparo para a alta hospitalar, esclarecendo sobre as consequências da cirurgia e as estratégias de reabilitação vocal, visando assim à melhoria da qualidade de vida.

Referências:

1. Freitas SA. avaliação acústica e áudio perceptiva na caracterização da voz humana. Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto; 2012 [citado 24 mar 2024]. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/69238.

2. Barros APB, Portas JG, Queixa D.S. Implicações da traqueostomia na comunicação e na deglutição. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 3, p. 202 – 207, julho / agosto / setembro 2009.

3. Neto ARL, Lang FM. Técnicas fonoterápicas em fononcologia: Voz em laringectomia parcial, subtotal e total. Tratado de Fonoaudiologia.. 1ed.São Paulo: Guanabara Koogan LTDA., 2014, v. 1, p. 190-200.

4. Bertoncello KC. “Qualidade de vida e a satisfação da comunicação do paciente após a laringectomia total: construção e validação de um instrumento de medida”: Universidade de São Paulo; 2004 [citado 24 mar 2024]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-10052004-112625/.

Renata Otoni

Renata Otoni Neiva

Mestre em cuidados oncológicos centrados no paciente pela Fundação Antônio Prudente. Enfermeira especialista em Oncologia e Estomaterapia do Grupo Oncológico de Feridas e Estomas (GOPE) no AC Camargo Cancer Center.

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