O uso de tabaco é o mais importante risco evitável à saúde no mundo desenvolvido. O tabagismo causa uma ampla gama de doenças, incluindo muitos tipos de câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença cardíaca coronariana, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, úlcera péptica e, durante a gestação, afeta negativamente o crescimento e desenvolvimento fetal e neonatal; devido alto índice de aterosclerose em fumantes relaciona-se com diversos mecanismos fisiopatológicos, como alterações no metabolismo das lipoproteínas, disfunção endotelial, alterações na coagulação e na função plaquetária (Fagerström, 2002).
Nas últimas décadas, assistiu-se a uma expansão maciça do uso de tabaco no mundo em desenvolvimento e, globalmente, a mortalidade relacionada ao tabagismo. No Brasil, na década de 1970, começaram a surgir movimentos de controle do tabagismo liderados por profissionais de saúde e sociedades médicas. A atuação governamental, no nível federal, começou a institucionalizar-se em 1985 com a constituição do Grupo Assessor para o Controle do Tabagismo no Brasil e, em 1986, com a criação do Programa Nacional de Combate ao Fumo (INCA, 2011; INCA 2012; Romero, Costa e Silva, 2011; Cavalcante, 2005).
Os tratamentos para a cessação do tabagismo representam alguns dos custos efetivos de todas as intervenções de saúde. O risco de morbimortalidade cardiovascular é reduzido com a cessação do tabagismo, além de melhorar a capacidade funcional dos pacientes. Embora o maior benefício advenha de parar de fumar quando jovem, mesmo parar na meia-idade evita muito o risco excessivo de saúde associado ao tabagismo. Como a duração do tabagismo é o principal fator de risco para morbidade, o objetivo do tratamento deve ser a cessação precoce e a prevenção de recaídas (Fagerström, 2002).
As úlceras de perna, as vasculogênicas (de origem venosa, arterial ou mista) são as mais prevalentes, e tem como importante fator de risco para seu desenvolvimento o uso do tabaco pelo processo já descrito acima, caracterizando-se por um processo crônico, doloroso, recorrente, com impacto negativo na qualidade de vida, na mobilidade, no estado emocional e na capacidade funcional das pessoas acometidas, exigindo atendimento multidisciplinar, com intervenções de natureza local e sistêmica (Frade, et al, 2005).
Identificar as características nos diferentes cenários é necessário, de forma a compreender as peculiaridades de cada contexto e planejar de forma adequada o atendimento a ser desenvolvido. Usualmente, as pessoas com úlceras vasculogênicas recebem atendimento profissional em unidades básicas de saúde (UBS), nos domicílios, em ambulatórios de serviços de referência, e quando apresentam agravamento das lesões ou complicações de comorbidades, como diabetes mellitus, são atendidas em unidades hospitalares (Malaquias, et al, 2012).
Protocolos clínicos norteiam situações singulares de tratamentos e/ou cuidados, especificando detalhadamente o que deve ser feito, por quem e como fazê-lo. Além disso, conduzem os profissionais envolvidos na assistência a tomarem decisões relacionadas à prevenção, promoção e reabilitação da saúde dos pacientes. Como propõem atendimento holístico do paciente, baseado em evidências científicas, na grande maioria das vezes, os protocolos clínicos são construídos para assistência multiprofissional (PIMENTA et al., 2015).
O acompanhamento multiprofissional é de grande importância para abranger as necessidades biopsicossociais do paciente de forma individualizada, e o Enfermeiro Estomaterapeuta, destaca-se através da gestão do cuidado aplicada no seu atendimento, devido sua formação especializada cientificamente e tecnológica; estimulando e enfatizando a manutenção dos hábitos saudáveis como: alimentares (aporte nutricional adequado de acordo com as necessidades individuais, em pequenas porções de 3 /3 horas, com alimentos naturais sem conservantes ou conservantes industrializados); uso das medicações corretamente conforme a receita médica, a fim de manter a estabilidade clínica; hidratação da pele com creme (aumenta a flexibilidade e a elasticidade da barreira protetora); uso do calçado protetor e individualizado; a manutenção adequada ao curativo e o acompanhamento contínuo planejado; evitando que a ferida se prolifique, com maior segurança e qualidade de vida; além de realizar apoio técnico no desenvolvimento e atualização da equipe envolvida, através dos matriciamentos, e na gestão dos materiais, garantindo o uso e a indicação correta, embasado nas melhores evidências científicas.
Referências Bibliográficas:
– Borges EL, Santos CM, Soares MR. Modelo ABC para o manejo da úlcera venosa de perna. Rev. Estima 2017 set/dez; 15(3): 182-7.
– Cavalcante, t. M. O controle do tabagismo no Brasil: avanços e desafios. Revista de psiquiatria clínica. 32(5); 283-300, 2005.
– Fagerström, k. The epidemiology of smoking: health consequences and benefits of cessation. Drugs. 2002; 62:1–9. Doi: 10.2165/00003495- 200262002-00001.
– Frade MAC, Cursi IB, Andrade FF, Soares SC, Ribeiro WS, Santos SV, et al. Úlcera de perna: um estudo de casos em Juiz de Fora – MG (Brasil) e região. An bras derm. 2005; 80(1):41-6.
– Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da saúde (opas). Pesquisa especial de tabagismo (PETAB): relatório Brasil / Organização Pan-Americana da Saúde. Rio de janeiro: INCA, 2011.
– Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O controle do tabaco no Brasil: uma trajetória. Rio de Janeiro: INCA, 2012.
– Malaquias SG, Bachion MM, Sant’Ana SMSC, Dallarmi CCB, Lino Junior RS, Ferreira PS. Pessoas com úlceras vasculogênicas em atendimento ambulatorial de enfermagem: estudo das variáveis clínicas e sociodemográficas. Rev. esc. enferm. USP 46 (2) • Abr 2012.
– Pimenta CAMG, Pastana ICASS, Sichieri K, Solha RKT, Souza W. Guia para construção de protocolos assistenciais de enfermagem. São Paulo: COREN- -SP; 2015.
– Romero, l. C. ; Costa e Silva, v. L. 23 anos de controle do tabaco no Brasil: a atualidade de programa nacional de combate ao fumo de 1988. Revista brasileira de cancerologia, 2011; 57(3): 305-314.
Enfª ET Débora Gregnani
Enf.ª Estomaterapeuta pela UNITAU
Capacitação em desbridamento, laserterapia e podiatria.
Estomaterapeuta de um dos Polos da PMSP.