A sexualidade faz parte da personalidade de cada um, sendo um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida e influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações emocionais e físicas, e a expressão afetiva sexual incentiva a autoconfiança e a comunicação nas relações.1
A pessoa depois de uma cirurgia de estomia, bem como seu parceiro (a) sexual vivenciam momentos de dúvidas e incertezas que dificultam seu reajuste sexual pelas alterações sexuais de ordem emocionais e físicas ou ambas impostas pela cirurgia de estomia como depressão, perda da libido, do desejo e disfunção erétil nos homens e dispareunia nas mulheres relacionada a alteração da anatomia; e essas alterações podem ser temporárias ou definitivas, e muitas vezes, baseiam-se em desinformação ou falta de orientações.2
A pessoa com estomia experimenta sentimento de vergonha, pela alteração na imagem corporal considerando-se pouco atraente; possui medo da rejeição; evita o contato sexual; e pode pensar em sexualidade como algo que deveria estar dentro de sua própria esfera de controle e, portanto, vivencia qualquer disfunção sexual como um fracasso pessoal pelo qual se sente culpado.3,4
Segundo Hogan, dos vários profissionais de saúde, o enfermeiro tem a maior oportunidade de orientar seu cliente quanto às questões relacionadas à sexualidade e seus reajustes sexuais após a cirurgia; pois este tem a oportunidade de desenvolver um relacionamento e obter a confiança e confidência dos pacientes, bem como, identificar, tratar e direcionar métodos terapêuticos relacionado às alterações sexuais.5 A educação do paciente e de seu parceiro(a) sobre a estomia, técnicas de manejo e estratégias para manter a intimidade são componentes essenciais desse cuidado e suas implicações podem ajudar a desmistificar essa condição e reduzir o estigma associado.
O enfermeiro, em especial, o estomaterapeuta deve propiciar espaço, para que a questão da sexualidade seja identificada e discutida; com o paciente e seu parceiro(a); com a mesma importância que as outras orientações e oferecer estratégias práticas para lidar com essas mudanças. Isso pode incluir dicas sobre posições sexuais confortáveis, uso de dispositivos de contenção e métodos para aumentar a confiança e melhorar a intimidade.5-7
A sexualidade em pacientes com estomias de eliminação é um tema complexo que requer uma abordagem sensível e fundamentada. Com uma comunicação aberta e educação contínua, é possível ajudar esses pacientes a superar os desafios e a viver uma vida sexual plena e satisfatória. A sociedade, por sua vez, deve trabalhar para reduzir o estigma e promover a inclusão, garantindo que todos tenham o direito de viver sua sexualidade de maneira digna e respeitosa mesmo porque a sexualidade é um fenômeno universal que deve ser vivenciado por todos indivíduos, com ou sem uma estomia, e que o faz sentir-se completo e normal, desejável e, por que não, adorável? 7
Referências Bibliográficas:
Consultas (02/09/2024)
- 1 – Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da Saúde. Saúde e sexualidade de adolescentes. Construindo equidade no SUS. Brasília–DF: OPAS, MS, 2017.
- 2 – Lara LA, Lopes GP, Scalco SC, Vale FB, Rufino AC, Troncon JK, et al. Tratamento das disfunções sexuais no consultório do ginecologista. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. (Protocolo Febrasgo – Ginecologia, nº 11/Comissão Nacional Especializada em Sexologia). FEMINA 2019; 47(2): 66-74
- 3 – BINDER, D.P. Sex courtship and the single ostomate. California: United Ostomy Association, 1981, p.3-32.
- 4 – Paszyńska W, Zborowska K, Czajkowska M, Skrzypulec-Plinta V. Quality of Sex Life in Intestinal Stoma Patients-A Literature Review. Int J Environ Res Public Health. 2023 Feb 1; 20(3):2660. doi: 10.3390/ijerph20032660. PMID: 36768026; PMCID: PMC9915982.
- 5 – Hogan, R. Human sexuality: a nursing perspective. 2ª ed. Connecticut: Appleton-Century-Crofts, 1985. 558p.
- 6 – Sexualidade de Homens em Vivência de Estomias Intestinais: Histórias Sobre Sentimentos e Significados. Araújo, Isabella Félix Meira; Sousa, Anderson Reis de; Santana, Evanilda Souza de; Pereira, Álvaro. Estima (Online) ; 20(1): e1922, Jan-Dec. 2022.
- 7 – The United Ostomy Associations of America (UOAA). Intimacy after Ostomy Surgery, 2018.
Enf.ª ET Adriana Pelegrini
Enfermeira pela Faculdade de Medicina de Marília;
Estomaterapeuta TiSOBEST pela USP-SP;
Mestrado em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem da USP – Ribeirão Preto;
Doutorado em Ciências da Saúde e Tecnologia na FAMERP;
Professora adjunto do curso de graduação em enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto;
Coordenadora geral da pós-graduação “lato sensu” em Enfermagem em Estomaterapia da FAMERP desde 2010;
Coordenadora técnica da pós-graduação em enfermagem em Estomaterapia do Centro Universitário São Camilo-São Paulo desde 2016;
Coordenadora do ambulatório de Estomias no Complexo da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (FUNFARME).