Saúde Mental da Mãe Trabalhadora

Saúde Mental da Mãe Trabalhadora

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental pode ser considerada “um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade”.

A maternidade é considerada uma das 3 principais situações de risco para uma possível crise na vida de uma mulher, junto com a adolescência e o climatério. É um período em que ocorrem várias mudanças físicas, hormonais, sociais e emocionais que contribuem para o surgimento de sintomas significativos de estresse, depressão e ansiedade.

1 em cada 4 mulheres sofre de depressão pós-parto, e 50% das mulheres apresentam algum sintoma de ansiedade, estresse ou depressão ao longo de sua maternidade. Em uma pesquisa realizada por Reis et al. (2015) com gestantes com esses sintomas identificou que 61% delas apresentavam ideação suicida.

Jornada Tripla

A maternidade é um período de muitas alegrias, porém, quando aliada a uma elevada carga horária de afazeres domésticos, cuidados maternos e o trabalho remunerado, a chamada jornada tripla de trabalho, essa mãe pode entrar em um estado de sobrecarga e colapso mental, também conhecido como burnout materno. Nele, a mãe não se reconhece em suas atitudes, sente-se constantemente exaurida, não encontra motivação para exercer sua função materna, nem prazer em estar com os filhos, mantendo-se emocionalmente distante dos mesmos e se não for cuidado pode se estender para outras áreas da vida. As dificuldades aparecem com mais frequência se a mãe não conta com uma rede de apoio, tem histórico familiar de transtornos mentais e se é viúva/divorciada/mãe solo, preta e pobre. E tudo isso interferirá negativamente em todos os âmbitos de atuação, inclusive a área profissional.

O Maquinário

As pressões sociais exigem altos padrões para a mulher que trabalha fora de casa, para que ela tenha uma família dos sonhos, filhos educados e bem cuidados, a casa bonita sempre em ordem, alimentação saudável, corpo dentro dos padrões de beleza, carreira estável, bem-sucedida financeiramente, realizada, feliz e ainda ser a mãe que sabe como agir em toda situação e equilibrada emocionalmente, uma exigência totalmente desconectada com a realidade, e que cala o sofrimento de uma mulher que é em si, humana, anula seus desejos e limita suas capacidades. Tornando a mulher real invisível à sociedade, mas, ao mesmo tempo, exigindo que seja a base que sustenta todo o maquinário rodando, favorecendo o adoecimento mental.

Consequências

As consequências são desastrosas desde o aparecimento de sintomas de transtornos mentais, exaustão, sentimento extremo de frustração, incapacidade e tendências aos vícios, ideações suicidas, até o afastamento das mães de sua profissão para conseguir conciliar a vida com os filhos causando a dependência financeira às vezes por parceiros abusivos. E não se limitam apenas às mães: A mãe mentalmente adoecida, tem menores chances de conseguir estimular seus filhos de modo adequado e suprir suas necessidades de conforto, segurança e atenção, podendo reverter em comportamentos de negligência, violência física e psicológica. Por sua vez, as crianças têm seu desenvolvimento cognitivo, físico e emocional prejudicados e muitas vezes apresentam maiores chances de adoecimento mental, problemas sociais e de relacionamento a longo prazo, inseguranças, vícios, bem como habilidades sócio-cognitivas diminuídas. No casal, o adoecimento pode implicar aumento de conflitos no relacionamento. Passa a ser, portanto, um problema de ordem social e, dessa forma, todos são responsáveis pela saúde mental materna.

O Próprio Algoz

Mães são julgadas a todo momento, estimuladas a desejar a igualdade de gêneros, mas obrigadas a manter a suavidade e delicadeza da mãe romantizada e a competência para dar conta das três jornadas como uma heroína, e elas compram essa ideia incutida na própria cultura, às custas do sacrifício de suas próprias necessidades.

Faça o que é Possível

Todo mundo é e/ou nasceu de uma mãe, então usufrua da empatia, sinta compaixão e seja apoio para a mãe. Se você é mãe, a perfeição não existe, seja o possível, já é o bastante, procure por mais autoconhecimento, autocuidado e exerça a gentileza consigo mesma. Da parte da sociedade, permita que isso ocorra, abra espaços acessíveis, onde a mãe possa falar sobre suas dificuldades com a maternidade, onde possa ser acolhida sem medo de ser julgada, receber o apoio de amigos, família e, certamente, promova movimentações de ordem estrutural, de políticas públicas, para que instituições educacionais, profissionais da saúde,

e o próprio local de trabalho consigam ter mais flexibilidade para atender às necessidades da mãe que atua em três jornadas, para que ela possa garantir seu bem estar social, ambiental e econômico e consequentemente, exercer seu papel de mãe com dignidade e respeito.

A mão que balança o berço é a mesma que rege o mundo, por isso é responsabilidade de todos cuidar da saúde mental de quem cuida.

Nívea Simono

Psicóloga Clínica Perinatal formada pela UNESP – Bauru, possui aprimoramento em Perinatalidade e Parentalidade pelo Instituto Materonline, especialização em Psicologia Hospitalar pela Irmandade da Santa Casa de SP, e especialização em Psicoterapia Clínica Existencial pela PUC-SP. Atua com mães, gestantes, puérperas, e ao longo da vida, na prevenção, resgate e manutenção da saúde mental materna. Representante do Movimento Maio Furta Cor pela conscientização da Saúde Mental Materna da cidade de SP.

Nívea Simono

Psicóloga Clínica Perinatal formada pela UNESP – Bauru, possui aprimoramento em Perinatalidade e Parentalidade pelo Instituto Materonline, especialização em Psicologia Hospitalar pela Irmandade da Santa Casa de SP, e especialização em Psicoterapia Clínica Existencial pela PUC-SP. Atua com mães, gestantes, puérperas, e ao longo da vida, na prevenção, resgate e manutenção da saúde mental materna. Representante do Movimento Maio Furta Cor pela conscientização da Saúde Mental Materna da cidade de SP.

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