Norma N. Gill, celebrada por seu trabalho inovador na estomaterapia, viveu uma vida de luta pessoal e mudança social.
Em Akron, Ohio, uma cidade marcada por inovação industrial e tensões raciais na década de 1950, Norma N. Gill superou crises de saúde e tornou-se a “Mãe da Terapia do Estoma”. Afro-americanos enfrentavam discriminação sistêmica e baixos salários, e Gill, nascida na década de 1920 e casada com um supervisor de fábrica, estava profundamente envolvida nas questões sociais da cidade. Influenciada pela fé de sua avó batista, que também tinha uma colostomia, sua vida refletia uma sensibilidade às questões humanas e sociais de sua época, guiada por intuições e visões espirituais.
Após a morte de seu primeiro marido em 1974, Norma casou-se novamente com Herbert G. Thompson em 1983. Ativa nas discussões sobre disparidades raciais, ela sonhou com uma igreja inclusiva. Diagnosticada com colite ulcerosa em 1948, Norma enfrentou uma doença debilitante que prejudicava suas tarefas diárias e exigia tratamentos caros, levando-a a hipotecar sua casa. Seu estado piorou, necessitando transfusões de sangue, e durante essa crise, descobriu que estava grávida de seu terceiro filho. Apesar das dificuldades, ela continuou a gravidez, mas sua saúde deteriorou-se ainda mais, forçando sua filha de 11 anos a assumir muitas responsabilidades domésticas.
Norma N. Gill foi atingida por uma condição dermatológica grave chamada Pioderma Gangrenoso (PG), que causou úlceras extensas em seu rosto, pernas, tronco e abdômen, levando-a a passar por cirurgia plástica facial e a enfrentar dores intensas nas pernas. Para lidar com a dor, ela encontrou algum conforto na prática da Meditação Transcendental (MT).
Após o nascimento de sua filha, em 1953, Norma enfrentou uma crise de saúde grave, sendo levada ao hospital, os médicos tiveram dificuldade em detectar seu pulso e observaram sua pele cianótica. Apesar de estabilizada após quatro dias, seus problemas persistiram, levando-a a ser encaminhada para o Cleveland Hospital em 1954, os médicos ficaram surpresos com a gravidade de sua condição, incluindo inchaço corporal significativo e complicações como aumento do fígado e inflamação dos olhos.
Após quatro semanas de cuidados intensivos, ela estabilizou e foi apresentada ao cirurgião colorretal Dr. Rupert Turnbull. Apesar de seu abdômen estar coberto de úlceras com tecido cicatricial, Turnbull encontrou um local para uma ileostomia devido à colite ulcerativa, e a cirurgia foi realizada com sucesso.
O Dr. Turnbull estava preocupado com o estado físico debilitado de Gill e o uso prolongado de cortisona, que poderiam comprometer a cicatrização. Ela foi aconselhada a seguir uma dieta rica em proteínas para ajudar na recuperação, pois não havia nutrição parentérica disponível na época. Mesmo após a cicatrização inicial, ela enfrentou problemas com a adesão dos aparelhos coletores da época devido ao tecido cicatricial. A solução foi um colchão Dempsey com um orifício, permitindo que ela se deitasse de barriga para baixo para que o efluente da ileostomia pudesse escorrer para um recipiente, ajudando na cicatrização.
Após nove semanas no Cleveland Hospital e várias cirurgias, incluindo a remoção do reto e reparação de uma hérnia, Gill começou a se recuperar. Sua vitalidade retornou gradualmente, trazendo-lhe uma nova perspectiva de vida e um forte desejo de ajudar os outros. Decidindo deixar sua missão nas mãos de Deus, começou a fazer voluntariado em um hospital local. Inicialmente distribuindo correio, sua dedicação a ajudar pacientes semelhantes a levou a colaborar com 28 médicos em Akron, oferecendo suporte e esperança. Em 1958, ao reencontrar o Dr. Turnbull, além de reafirmar sua resiliência, ela se destacou profissionalmente, transformando sua dor em um catalisador para apoiar outros.
Aos 38 anos, Norma N. Gill tornou-se técnica de ostomia com o Dr. Turnbull, formando uma parceria inovadora. Juntos, eles dedicaram-se a melhorar equipamentos de ostomia e educar a comunidade médica, mudando a percepção da cirurgia como uma oportunidade para uma vida melhor. Em 1961, fundaram uma escola para Terapeutas Enterostomais, evoluindo para associações profissionais como a Wound Ostomy Continence Nurses (WOCN). O legado de Gill está na institucionalização global da estomaterapia, inspirando a próxima geração, incluindo sua filha Sally que também abraçou a carreira como estomaterâpeuta, assegurando melhores cuidados para pacientes em todo o mundo.
Norma N. Gill, exemplo de perseverança e inovação, deixou um legado de avanços científicos, resiliência pessoal e transformação social. Sua jornada, desde a luta contra a colite ulcerosa até a liderança em terapia enteroestomal, transcende a medicina, refletindo as complexidades humanas e sociais de seu tempo. Gill revolucionou os cuidados de ostomia, demonstrando que essa cirurgia poderia melhorar a qualidade de vida, uma visão moldada por suas próprias tribulações. Sua vida e esforços são um testemunho de que, em meio a adversidades, é possível criar um caminho de esperança, inovação e impacto duradouro.
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Viviane Helena Dias de Melo
Especialista em Estomaterapia pela Universidade de Taubaté (UNITAU) – 2019.
Pós-graduada em Cardiologia e Hemodinâmica pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) – 2018.
Pós graduada em Enfermagem Oncológica – Onco Ensino – 2021.
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