Falar de Suicídio é Preciso, pois Toda Vida é Preciosa

Suicídio e Setembro Amarelo

Desde 2023, o dia 10 de setembro foi decretado pela Organização Mundial da Saúde como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, com as fitas amarelas adotadas como símbolo1. A ideia é que, durante esse mês, as pautas sobre o tema sejam intensificadas, embora seja necessário abordar o suicídio ao longo de todo o ano.

Para quem ainda desconhece o assunto, pode surgir a pergunta sobre a razão da cor amarela. Trata-se de uma homenagem a Mike Emme, um jovem de 17 anos que foi encontrado morto por seus pais em 8 de setembro de 1994, dentro de seu Mustang 68, que ele mesmo havia pintado de amarelo brilhante. Mike deixou um bilhete para seus pais, Dale e Darlene Emme, dizendo: “Não se culpem, mamãe e papai, eu amo vocês. Com amor, Mike. 11:45 pm2. A história continuou. Seus pais e amigos transformaram a dor em um trabalho de conscientização, utilizando fitas amarelas.

Suicídio! Matar a si mesmo. Esse não é um termo que agrada falar ou escrever, pois é assustador e cheio de tabu, embora não seja um assunto novo na história humana.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 703 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. No Sudeste Asiático, o suicídio feminino é mais comum (8,1 por 100.000) do que a média global (5,4 por 100.000). Entre os homens, a taxa na África (18,0 por 100.000) é superior à média global (12,6 por 100.000)3. No Brasil, de 2011 a 2022, foram registradas 720.480 notificações de automutilação, 104.458 hospitalizações por automutilação e 147.698 suicídios4.

São dados realmente assustadores e muito desconfortáveis, pois é uma morte violenta, causadora de muita angústia, culpa e sofrimento para quem fica. E com certeza, quem tirou sua vida estava vivendo em muito sofrimento e, por vezes, calado.

Por que falar sobre suicídio? Apesar de ser um tema difícil, discutir o assunto ajuda a desmistificar tabus e promove o debate em diversos contextos, começando em casa. Ao abordar temas delicados com a família, na escola, na igreja e entre amigos, criamos oportunidades para conversas sobre dores e sofrimentos. Esse espaço para diálogo pode oferecer apoio a quem está sofrendo. É essencial estar atento a comportamentos que podem indicar ideação suicida, especialmente em pessoas deprimidas.

Atente para os seguintes comportamentos5: não gostar mais de coisas que curtia antes; frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer”; achar que os outros ficarão melhor depois da sua morte; piora do desempenho na escola ou no trabalho; isolar-se e não ter esperança no futuro; achar que nada nem ninguém pode ajudar; descuido com a aparência e alterações no sono e no apetite.

Todos esses sinais são importantes, mas gostaria de destacar o isolamento. Na era digital, nossos espaços de convivência familiar e entre amigos têm se tornado cada vez mais reduzidos. Talvez seja o momento de resgatar práticas do passado recente, como reunir a família para conversar sobre o dia a dia. A mesa, por exemplo, é um ótimo lugar para essa interação, e jogos lúdicos podem ajudar a fortalecer os laços e criar um ambiente mais acolhedor.

Esses momentos em família também abrem oportunidade para discutir questões importantes e difíceis, como o suicídio, especialmente agora no Setembro Amarelo. Falar sobre esses temas é essencial, e o lar deve ser um espaço de apoio e acolhimento. Quando isso não é possível, é crucial buscar outros ambientes de amizade, como o trabalho ou a comunidade.

A campanha Setembro Amarelo® 2024 tem o apelo: “Se precisar, peça ajuda!”1. Esse é um forte chamado! E é preciso que ombros solidários estejam sempre disponíveis.

Que as famílias que passaram por essa experiência encontrem, na dor, novas oportunidades de ressignificação.

Referências Bibliográficas:
Consultas (02/09/2024)

  • 1. www.setembroamarelo.com
  • 2. https://yellowribbon.org/
  • 3. Suicide worldwide in 2019: global health estimates. Geneva: World Health Organization; 2021.
  • 4. Alves FJO, Fialho E, Araújo JAP, Naslund JA, Barreto ML, Patel V, et al. The Lancet Regional Health – Americas. 2024;31:100691. Published Online 15 February 2024. doi:10.1016/j.lana.2024.100691.
  • 5. https://setembroamarelo.org.br/
Beatriz F Alves Yamada

Dr.ª Beatriz F Alves Yamada – PhD, MS
CRP 06/127735
Enfermeira Estomaterapeuta;
Psicóloga Clínica;
Terapeuta Winnicottiana.

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