As feridas neoplásicas malignas (FNM) são consideradas feridas crônicas por estarem associadas ao desenvolvimento do câncer e resultam da proliferação descontrolada de células malignas que se infiltram a partir de tumores primários ou metastáticos, causando rompimento da integridade cutânea evoluindo de forma progressiva e degenerativa pelo crescimento do tumor, neovascularização e invasão das células neoplásicas nos tecidos saudáveis.
São feridas complexas, exsudativas, fétidas e dolorosas, com alta carga bacteriana, associadas ao câncer avançado e com necessidade de cuidados paliativos.
É imperioso afirmar que não há consenso sobre a terminologia utilizada para conceituar as feridas de origem tumoral. No Brasil, os termos mais utilizados são: “lesões tumorais”, “feridas tumorais”, “feridas malignas”, “ferida oncológica”, “úlceras neoplásicas”, “lesões neoplásicas” e “lesões fungóides”, a última tem essa denominação pela semelhança ao aspecto de cogumelo ou couve flor.
As FNM afetam as dimensões psíquicas, sociais e espirituais do paciente, as quais podem interferir nas relações interpessoais com os profissionais da saúde e com os próprios familiares podendo comprometer a comunicação efetiva no decorrer do tratamento.
Da mesma forma vale ressaltar que a qualidade de vida desses pacientes e seus familiares é impactada drasticamente ocasionando instabilidade humoral, psicológica e isolamento social, além de impor aos familiares o cuidado de uma pessoa cuja imagem corporal desfigura progressivamente associado a sintomas desagradáveis e que causam constrangimento, dentre eles o odor.
Em se tratando de pessoas com câncer avançado sem perspectivas de cura, controlar sinais e sintomas das feridas neoplásicas malignas torna-se um grande desafio para os profissionais de saúde.
Assim, o manejo clínico dessas feridas é complexo, especialmente quando o objetivo é fazer o controle de sinais e sintomas sem a perspectiva de cicatrização. Seus sintomas característicos são: dor, odor fétido, exsudato, sangramento, prurido, infecções, miíase (infestação de larvas), fístulas e desfiguramento corporal progressivo. Consequentemente, é primordial o manejo adequado para reduzir o impacto da doença ocasionado pelo sofrimento físico e psicológico vivenciado pela presença dessas feridas.
Nessa perspectiva, o tratamento das feridas neoplásicas malignas (FNM) está relacionado à terapia da doença de base e da assistência multiprofissional, porém, a atuação do enfermeiro é de extrema importância.
É sua atribuição fazer o manejo, e para tanto precisa de conhecimento profissional quanto à etiologia oncológica, estadiamento da lesão, estado biopsicossocial do paciente, produtos e coberturas específicas para o manejo dos sinais e sintomas.
Assim, diante da complexidade que envolve a assistência ao paciente oncológico com ferida neoplásica maligna, é imprescindível que o enfermeiro possua competência e habilidade para avaliar e intervir, transmitindo segurança e assistência adequada ao paciente e à família.
Entretanto, a temática acerca das FNM é pouco explorada nas atividades de pesquisa e o déficit de conhecimento dos enfermeiros, ainda é uma realidade que impacta na qualidade da assistência. Logo, tanto os enfermeiros que atuam no campo prático, quantos aqueles em processo de formação necessitam de conhecimento e de atividades educativas sobre as FNM.
Nesse contexto destaca-se a importância de um profissional estomaterapeuta no suporte especializado instituindo e atualizando protocolos, realizando o treinamento das equipes, gerenciando casos clínicos, visando uma assistência integral de qualidade e individualizada por meio da prática baseada em evidências científicas.
Da mesma forma é fundamental a implementação de Programas de Educação Permanente nos serviços de oncologia para o manejo das FNM, na busca de melhor resolutividade dos problemas vivenciados na prática. Portanto, reafirma-se que a existência de uma equipe especializada para o cuidado à pessoa com feridas, com disponibilidade de um enfermeiro estomaterapeuta para avaliação e esclarecimento das dúvidas dos profissionais da equipe, particularmente o enfermeiro, é essencial para uma assistência de qualidade, estabelecendo vínculo e confiança entre o paciente, a família e a equipe de enfermagem.
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Odenilce Vieira Pereira
Enfermeira Estomaterapeuta, Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF) da Universidade Federal do Pará e Membro do Conselho Científico da Seção – SOBEST/Pará.