A enfermagem está exposta a diversos estressores, como a sobrecarga de trabalho, desvalorização, problemas de comunicação em equipe, esgotamento físico e mental, má remuneração, múltiplas jornadas de trabalho e acompanhamento de sofrimento físico e psíquico. Além disso, é majoritariamente composta por mulheres, que, muitas vezes, enfrentam uma dupla jornada entre vida familiar e profissional.
Cientificamente, o estresse é caracterizado por um estado de homeostase desafiado, seja de forma sistêmica, física ou psicológica. A falta de recursos para lidar com os estressores resulta na falha em restaurar esse equilíbrio, o que gera efeitos negativos e dá origem ao “estresse” como é conhecido cotidianamente. O estresse ocupacional, por sua vez, ocorre quando as demandas do ambiente de trabalho excedem as capacidades, recursos ou necessidades do trabalhador.
Quando o estresse ocupacional não é bem manejado, ou seja, não são gerenciados os estressores ocupacionais, pode evoluir para a Síndrome de Burnout, caracterizada por uma exaustão emocional, despersonalização e diminuição do senso de realização pessoal. Os profissionais da área da saúde são os mais afetados por essa Síndrome da saúde mental, com maior prevalência entre os enfermeiros.
Após a pandemia da COVID-19, fenômeno que evidenciou a importância de se olhar para a saúde mental dos profissionais da saúde, diversos estudos têm sido conduzidos com esse objetivo. O uso de estratégias de enfrentamento, ou coping, tem sido preditivo de bem-estar psicológico, podendo envolver desde métodos pessoais, como conversar com colegas de trabalho e buscar diferentes soluções para o problema, até técnicas amplamente estudadas, como a atenção plena, ou mindfulness, exercícios respiratórios, escrita terapêutica, exercício fisico e yoga.
Ainda há muito a ser estudado nessa área, mas é certo que a saúde mental precisa ser cuidada, tanto de forma individual, por meio da psicoterapia, quanto organizacional, com intervenções voltadas para as equipes de enfermagem. O sofrimento psíquico de enfermeiros acarreta em prejuízos pessoais e profissionais, podendo afetar, por exemplo, a qualidade do atendimento ao paciente, evidenciado como um dos principais pilares da adesão ao tratamento, qualidade de vida e vínculo afetivo de acordo com uma revisão umbrella de 2024. Quem cuida também merece cuidado!
Referências Bibliográficas
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Beatriz Costa Ferreira
Graduanda em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu
Bolsista FAPESP de Iniciação Científica pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – EEUSP
Membro do Grupo de Pesquisa em Estomaterapia da EEUSP – GPET
Estagiária em Gestão de Projetos no Projeto Amadorismo da ONG Base Colaborativa