Quando me pediram para falar da Dra Angelita Habr-Gama foi assim, um turbilhão de emoções e lindas recordações, das conquistas e eventos em que participamos juntas.
Durante minha graduação na EEUSP os estágios eram no Hospital das Clínicas – HC e lá tive a oportunidade de conhecer os professores Angelita e Joaquim Gama, que já eram profissionais conceituados em suas áreas na medicina brasileira.
Como sempre me interessei pela Estomaterapia, quando fui trabalhar no Hospital Alemão Oswaldo do Cruz – HAOC tive a oportunidade de cuidar dos pacientes da Dra Angelita em conjunto com sua equipe. Ela sempre me trazia artigos em inglês sobre os cuidados com estomias, uma vez que no Brasil ainda não tínhamos escola especializada. E um dia ela perguntou se eu gostaria de fazer o curso de estomaterapia na Cleveland Clinic, onde ela era amiga do diretor, Dr Victor Fazio, professor responsável pelo curso.
Falei com meus pais, que me deram o maior apoio, tirei licença do trabalho e fui estudar nos Estados Unidos. A partir desse momento o meu vínculo com a Dra Angelita, que já era forte, se intensificou ainda mais. No Brasil a especialidade existe graças ao esforço da Profa. Vera Lucia Conceição de Gouveia Santos e o incentivo da Dra Angelita.
Hoje posso dizer que é um privilégio estar ao lado deles há mais de 40 anos sempre buscando atualização científica para trazer atendimento de qualidade aos nossos pacientes.
Uma das cientistas mais premiadas do país, a cirurgiã coloproctologista do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Prof.ª Dra. Angelita Habr-Gama, é a primeira médica-cirurgiã da América Latina a receber a medalha Bigelow.
A láurea, que foi instituída em 1916, é uma homenagem oferecida pela tradicional Sociedade de Cirurgia de Boston (EUA). A medalha é concedida quando o conselho científico da sociedade de Massachusetts julga adequado laurear um cirurgião cuja trajetória represente uma contribuição de destaque ao progresso científico e ao ensino da cirurgia.
A cirurgiã brasileira e professora emérita da Universidade de São Paulo (USP) é também a primeira mulher entre os 34 já premiados. A outorga da medalha Bigelow ocorreu no dia 06 de novembro de 2023, em Boston, nos EUA. Em 2022, a Prof.ª Dra. Angelita já havia sido reconhecida pela Universidade de Stanford (EUA) como uma das médicas que mais contribuíram para o desenvolvimento da ciência no mundo.
Uma das pesquisadoras brasileiras mais premiadas, em seis décadas de dedicação à medicina, já publicou mais de 260 artigos científicos em revistas
indexadas na base de dados PubMed. De acordo com o Dr. Rodrigo Oliva Perez, coordenador do núcleo de coloproctologia e intestinos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, esta premiação é mais que merecida, pela sua relevância e contribuição à sociedade e à medicina. Dentre as principais contribuições aos pacientes com câncer de cólon e reto, merece destaque a estratégia “Watch and Wait”, método idealizado e proposto pela Prof.ª Dra. Angelita Gama, em 1991.
“Depois de três décadas de muita controvérsia e diversos estudos publicados, a estratégia é atualmente considerada uma alternativa válida para pacientes com câncer da porção distal do reto que apresentam resposta clínica completa após tratamento com radioterapia e quimioterapia, e vem sendo praticada em vários centros em todo o mundo. ‘Observar e Esperar’ (do inglês Watch and Wait) que significa acompanhar muito de perto, com consultas e exames específicos frequentes, pode ser uma boa alternativa ao tratamento cirúrgico radical. Nesta estratégia, há o potencial de evitar uma intervenção cirúrgica de grande porte, que pode ser acompanhada de complicações e mesmo de uma colostomia definitiva para desvio das fezes. A cirurgia torna-se necessária apenas quando não ocorre o desaparecimento total do tumor, ou quando ele reaparece.
No dia 21 de março de 2024, a Profa. Dra. Angelita Gama tornou-se membro da Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira nº 15, sucedendo o acadêmico José Gregori. A cerimônia de posse foi realizada na sede da Academia Paulista de Letras e teve a presença do Prof. Dr. Joaquim Gama.
Com respeito e carinho estive presente para vivenciar este momento junto com a Dra Angelita Habr-Gama.
Deixo aqui o meu relato sobre esse pedacinho da nossa história do qual precisamos conhecer e preservar, pois já evoluímos muito entre os anos, mas temos muito mais a conquistar.
Enfa. Estomatrapeuta Eloísa Roncaratti
Enfa. Estomatrapeuta Eloísa Roncaratti
Graduada pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (1980 – 1984).
Geriatria Gerontologia Social – Instituto Sedes Sapientiae (1986).
Especialização em Enfermagem Saúde Mental e Psiquiatria – Escola Paulista de Medicina – Departamento de Enfermagem (1989)
Estomaterapia – School of Enterostomal Therapy – Roberto Turnubull – Cleveland Clinic (1990).
Administração Hospitalar – Instituto de Pesquisas Hospitalares (1995)
Mestra em Enfermagem – Escola de Enfermagem – Universidade de São Paulo (1997-2000)
Psicogerontologia – Fundamentos e Perspectivas – Pontifícia Universidade Católica (2007)
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