O câncer de colo uterino é o terceiro câncer mais incidente entre as mulheres segundo dados do INCA 2020. Entre os cânceres ginecológicos é o mais frequente e o único que possui rastreamento, ou seja, é capaz de ser descoberto precocemente através de exames de detecção como o exame de Papanicolau. Além de poder ser detectado precocemente, existe um meio de preveni-lo através da vacinação contra o vírus HPV.
Quem e quando deve ser feito o exame de rastreamento?
O exame deve ser coletado preferencialmente nas mulheres entre 25 e 64 anos que já tiveram vida sexual. Os dois primeiros exames devem ser coletados com intervalo de um ano. Se a paciente tiver 3 exames consecutivos negativos poderá espaçar a coleta para o intervalo de 3 anos. Atenção! Homens trans com útero também devem fazer exames de rastreamento para câncer do colo uterino.
Vacina contra o HPV
As meninas de 9 a 14 anos e os meninos de 11 a 14 anos recebem 2 doses da vacina com intervalo de 6 meses. Pacientes imunossuprimidas tem indicação de receber a vacina até 45 anos. Este esquema de vacinação seria o ideal oferecido à população, receber a vacina antes do início da atividade sexual. Mas isto não é um impeditivo para que mulheres e homens recebam a vacina fora desta faixa etária. No adulto recomenda-se a vacinação através de 3 doses. As vacinas existentes no Brasil atualmente são de dois tipos: bivalente e quadrivalente. A bivalente contempla a proteção contra HPV 16 e 18 que são os dois tipos com maior risco de desenvolvimento do câncer. Já a quadrivalente, além dos tipos 16 e 18, contempla os tipos virais 6 e 11 que são tipos não associados ao câncer, mas que causam as verrugas genitais. Só a vacinação garante a proteção total contra a infecção? Não, uma vez que a vacina atual protege apenas contra os dois tipos mais oncogênicos e mais prevalentes. Existem outros tipos de HPV circulando e que podem causar o câncer. Por isso, além da vacinação também é importante o uso de preservativos para minimizar o risco de contaminação.
Como eu pego HPV?
O HPV normalmente é transmitido por via sexual. A contaminação não ocorre apenas pela penetração! Ele pode ser transmitido por via oral-genital, anal-genital e manipulação. Outra forma de transmissão do vírus pode ocorrer durante o parto quando a mãe está infectada. Isso quer dizer que a mãe infectada não pode ter um parto normal? Não, a infecção por HPV não é uma contraindicação ao parto normal, uma vez que nem sempre há transmissão e nem sempre a criança se torna portadora crônica. Lembre-se, o problema da infecção pelo HPV é se tornar portador crônico do vírus. Na grande maioria das pessoas infectadas, o próprio sistema imunológico elimina o vírus. Em torno de 70% da população que já teve relações sexuais já teve contato com o vírus.
Fatores de risco
Além da infecção crônica pelo HPV que ocorre em aproximadamente 32% das mulheres infectadas, outro fator de risco para o câncer de colo uterino é o tabagismo e uso de contraceptivos orais. O tabagismo altera a imunidade local favorecendo a infecção crônica pelo HPV. Já o uso de anticoncepcionais pode ser um viés como fator de risco, uma vez que muitas mulheres em uso de anticoncepcionais deixam de usar preservativos por se sentirem seguras quanto a uma possível gravidez.
Diagnóstico
O diagnóstico do câncer do colo uterino é feito através de uma biópsia. A biópsia pode ser feita quando se observa uma lesão macroscópica no colo uterino ou quando há alguma alteração identificada no exame de colposcopia. A colposcopia é indicada quando há alguma alteração identificada no exame de Papanicolau.
Tratamento
O tratamento irá depender do estadiamento do tumor, ou seja, do grau de disseminação tumoral. Nos casos iniciais, o tratamento é cirúrgico. Nessa situação existe a possibilidade de se preservar a fertilidade apenas retirando o colo uterino. Nas pacientes que já tem o tumor um pouco mais avançado, é necessária a retirada do útero, tubas, paramétrios (tecidos ao lado do útero responsáveis por sua sustentação na bacia) e os linfonodos pélvicos. Quando o tumor é maior que 4cm o tratamento de escolha é quimio e radioterapia. Em algumas pacientes que são submetidas ao tratamento cirúrgico, ao se avaliar algumas características da peça no microscópio, é necessário tratamento radioterápico complementar. Casos muito avançados em que há acometimento tumoral de outros órgãos, normalmente o tratamento de escolha é a quimioterapia. Nesses casos, podem ser necessárias ainda, cirurgias para desobstrução da via urinária ou intestinal. No caso de obstruções urinárias podem ser indicadas passagem de cateteres duplo J nos ureteres ou até mesmo realização de nefrostomias. Quando há obstruções intestinais, podem ser necessárias colostomias ou ileostomias. O papel da enfermagem especializada no manejo de estomias é fundamental. A orientação dos cuidados com as estomias é muito importante para seu bom funcionamento, prevenção de lesões de pele e melhor qualidade de vida.
Câncer de colo tem cura! Diagnóstico precoce e prevenção são a chave para tratamento de sucesso! Não deixe de se cuidar!
Dra Cristina Anton
Mestre e Doutora pela FMUSP
Médica Assistente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP