Incontinência Urinária na pessoa idosa

INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA PESSOA IDOSA

No Brasil, considerado um país de terceiro mundo, estudos populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que existem atualmente, cerca de 32,4 milhões de pessoas idosas. 1

O envelhecimento humano vem associado ao desgaste físico funcional do corpo, mente e consequentemente, ocorre a diminuição das respostas fisiológicas o que acaba afetando a qualidade de vida dessa população, em especial em sua independência e autonomia. 2

A saúde na população idosa está relacionada com a capacidade de gerenciar a própria vida ou cuidar de si mesmo, ou seja, é considerado saudável quando é capaz de funcionar sozinho, com independência e autonomia, mesmo que tenha patologias.

Nesse âmbito é importante ressaltar que as pessoas idosas são vítimas em número expressivo de síndromes, a despeito de doenças específicas, que são chamadas de “gigantes da geriatria”, entre elas podemos evidenciar as incontinências esfincterianas. 3

A temática é de grande relevância para qualidade de vida destas pessoas, então nesta lauda falaremos da incontinência urinária.

Segundo a ICS (International Continence Society) incontinência urinária (IU) pode ser definida como qualquer perda involuntária de urina. 4 Com o envelhecimento, aumenta a flacidez da musculatura do assoalho pélvico e a habilidade de segurar a urina diminui, em ambos os sexos. Vale ressaltar que o envelhecimento dos tecidos, e doenças próprias da idade também colaboram para o surgimento da IU. No público feminino a IU de urgência é a mais comum, já na população masculina a estimativa é mais difícil de ser realizada porque sua história natural é afetada pelo tratamento das doenças prostáticas. 5

A IU pode ser classificada como:

  • Estresse: caracteriza-se pela perda involuntária de urina quando tosse ou espirra;
  • Urgência: É a perda involuntária de urina, associada ou precedida de urgência miccional, geralmente associada de polaciúria e noctúria (o paciente se levanta mais de uma vez para urinar a noite);
  • Mista: É a perda involuntária de urina concomitante à urgência miccional e ao estresse;
  • Transbordamento: caracterizada pelo gotejamento e/ou perda contínua de urina associados ao esvaziamento da bexiga incompleto. 6

Essas disfunções miccionais são associadas no geral a alterações psicoemocionais e levam ao isolamento social em pacientes de diferentes idades. A IU ainda é considerada uma condição subdiagnosticada, uma vez que as pessoas, por vergonha ou mesmo o medo de uma intervenção médica, procuram ocultar os sintomas. Acreditam que essa patologia seria advinda de um processo normal do envelhecimento, prejudicando dessa forma o início precoce do tratamento. 7

No exame físico é fundamental que sejam observadas as condições gerais do paciente, tais como a capacidade de locomoção (dificulta a chegada do paciente ao banheiro) e, ainda, se existem outras condições clínicas que induzem ou agravam a IU, tais como: cirurgia pélvica, tabagismo, obesidade, depressão, ansiedade, medicações que alterem a atividade muscular e/ou irritantes vesicais, sobretudo levando em consideração o maior risco no sexo feminino, pela anatomia da pelve, número de gestações, partos vaginais, diminuição de estrogênio pós menopausa e constipação funcional. Durante o exame nas mulheres, deve ser avaliada a existência de prolapso de órgãos pélvicos, mobilidade do colo vesical, contração da musculatura do assoalho pélvico e descartar infecção do trato urinário, pois os sintomas podem assemelhar-se. 8

Desta forma, para que o diagnóstico seja preciso, é necessária uma abordagem mais aprofundada para a obtenção de conhecimentos que permitam também a definição do tratamento mais adequado. Para a melhora na qualidade de vida o paciente é orientado na adoção de alguns hábitos, entre eles: a ingestão adequada de líquidos; evitar o consumo de álcool e de cafeína; reduzir o consumo de líquidos no período noturno; interromper o hábito do tabagismo; tratar a constipação funcional e as pneumopatias (IU são intensificadas pela tosse). 9

A terapia comportamental deve ser considerada sempre a primeira forma de tratamento, pois trata-se de um método não invasivo, com baixo risco, pouco dispendioso e que pode constituir-se numa estratégia de tratamento eficaz na recuperação das funções fisiológicas, provocando uma melhora da musculatura do assoalho pélvico. O processo é iniciado pela realização do diário miccional e em seguida, agrega-se às queixas com as peculiaridades de cada paciente, para a elaboração da melhor abordagem terapêutica.

Essa abordagem não-farmacológica objetiva na educação do paciente sobre seus hábitos miccionais, exercícios de fortalecimento da musculatura pélvica, modificando os hábitos urinários e concomitantemente, auxiliando na obtenção de técnicas que evitem a perda de urina. Os métodos comportamentais incluem o treinamento vesical, os exercícios para fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico e o biofeedback. 10

As intervenções do Enfermeiro podem auxiliar no diagnóstico e maior controle da perda urinária, aumentando a qualidade vida dessas pessoas. Exames simples podem ajudar o enfermeiro na identificação dos fatores de risco para a IU na população idosa, uma vez que por falta de informação do profissional enfermeiro, ou de um exame físico mais detalhado que identifique ao menos os fatores de risco, emergem os obstáculos para o diagnóstico precoce da IU.

Referências

  1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projeções da população: revisão – 2022. Brasil: IBGE; 2022.
  2. Carvalho Filho ET, Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. 2ª ed. São Paulo (SP): Atheneu; 2006.
  3. Moraes EN, Marino MCA, Santos RR. Principais síndromes geriátricas. Rev Med Minas Gerais 2010;20(1):54-66.
  4. Abrams P, Cardoso L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmesten U, et al. The standardisation sub-committee of the International Continence Society. Urology. 2003;61(1):37-49
  5. Hunskaar S, Burgio K, Clark A. Epidemiology of urinary and fecal incontinence and pelvic organ prolapse. In: Basic E, editor. Incontinence 3rd International Consultation on Incontinence 2005; Paris. p. 255.
  6. Perry S, Shaw C, Assassa P, Dallosso H, Williams K. Ann epidemiological study to establish the prevalence of urinary symptoms and felt need in thr community: The leicestershire MRC incontinence study: J Pub Heal Med 2000; 22:427.
  7. THOMAS DR. PHARMACOLOGIC management of urinary incontinence. Clin Geriatr Med.2004 Aug; 20(3):511
  8. Santos VLCG, Silva AM. Qualidade de vida de pessoas com incontinência anal. RevBras Colo-Proctol. 2002;22(2):98-108.
  9. Morantz CA. ACOG Guidelines on Urinary Incontinence in Women. Am Family Phys. 2005 Jan 07;72(1):175-8.
  10. Thomas DR. Pharmacologic management of urinary incontinence. Clin Geriatr Med. 2004 Aug; 20(3):511-23.
INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA PESSOA IDOSA

Samara Cristina Teodoro Reis
Enfermeira Estomaterapeuta pela Universidade de Taubaté (UNITAU), Gerontologia e Geriatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Habilitada em Podiatria pelo Instituto Stay Care, Gerente de Enfermagem do Ambulatório Médico de Especialidades de São Paulo

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